quinta-feira, 24 de junho de 2010

A FILHA DO PÓS-GUERRA

Trechos extraídos do livro "Partono i Bastimenti", de Matilde Cocchiaro, Editora Città Nuova, 2009

Ginetta Calliari nasce em Trento no dia 15 de outubro de 1918. O pai, Giovanni, é ferroviário da estação de Lavis. A mãe, Fortunata Furlan, dedica-se aos trabalhos domésticos. Uma família unida, católica, totalmente dedicada à formação humana e cristã das três filhas: Lívia, Luigia, chamada pelo diminutivo Ginetta, e Gisella (Gis), que recebem sólidos princípios morais dos pais.
A mãe, mesmo sendo uma mulher simples, ama a literatura e passa horas lendo poetas e escritores de todos os tempos; e, justamente por esse seu amor pelas coisas belas e grandiosas, aprecia muito a vida e os escritos dos santos. E preocupa-se com a preparação religiosa das filhas.
Todas as noites a família se reúne para rezar o terço, e as meninas ficam de joelhos nas cadeiras de madeira da cozinha. No mês de maio, com a fantasia das crianças, revivem os vários mistérios que a mãe lê; Ginetta, orgulhosa da sua tarefa, entoa a Ave Maria.
Habituei-me logo cedo - escreve - a ter um relacionamento direto com Jesus, com Maria, com as almas do Purgatório que, seguindo o exemplo da minha mãe, eu também queria ajudar a alcançarem rapidamente o Paraíso.
(...) Ginetta ama a liberdade e quer se sentir independente. (...)

Certa vez, o papai lhe pede para ajudá-lo a limpar a tina onde deveria ser amassada a uva para o vinho. Sendo pequena teria entrado facilmente no grande recipiente para lavá-lo melhor na parte interna, mas Ginetta não achava que fosse um trabalho adequado para ela: tem medo de ficar sufocada ali dentro. Assim, sai correndo, seguida inutilmente pelo pai. Pouco depois, porém, arrepende-se ao ver a sua irmãzinha entrar na tina, e realiza serenamente aquele trabalho, com docilidade e atenção, como se estivesse brincando.
(...) Na família a definem de "a filha do pós-guerra" pela sua força, por ser irriquieta e pela rebelião do seu caráter.
(...) Um dia, vendo um pobre velho que carregava com esforço um carrinho, sente tanta compaixão que chega a se comover. Os tios, que estão presentes, comentam: "É só uma criança, mas em relação às pessoas que sofrem ela tem um amor e um respeito mais do que um adulto. Realmente ela tem um grande coração!"
Passeando pelo bosque com o tio, Ginetta encontra, entre as folhas secas, uma cruz de metal que, lustrada cuidadosamente, conserva como um objeto precioso. O tio fica surpreso com esse gesto e com a alegria que aquele crucifixo suscitou nela. Para ela, é como se Jesus mesmo, por meio daquele sinal, quisesse ser encontrado naquela estrada. Fica mais contente ainda, quando uma amiga da família lhe dá de presente um crucifixo maior, que ela conserva como um companheiro inseparável.
(...) Embora sendo ainda muito jovem, Ginetta Começa a refletir sobre sua vita futura. O matrimônio lhe agrada, mas ao mesmo tempo se sente atraída por uma existência usada totalmente para Deus. Quando ainda era adolescente, no dia da festa de São Luiz, ouve falar dele como o "santo da virgindade". Escreve: Uma frase ficou impressa em mim: os virgens, quando entrarão no Paraíso, seguirão o Cordeiro por toda parte. Com a fantasia de menina, imagina-se passeando pelo Reino dos Céus com muitos outros virgens. Mas aquilo que mais me atraía era que esses virgens cantavam "um hino", uma canção maravilhosa, conhecida somente por eles. Essa idéia exerce um fascínio especial em Ginetta que, desde pequena, demonstra possuir uma sensibilidade aguçada pela arte e pela música. Dias depois, escutando a mãe que conversa com uma amiga sobre o futuro das filhas, intervém com seriedade e convicção: Mamãe, eu não me casarei!

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