segunda-feira, 2 de agosto de 2010

QUE DIREÇÃO DAR À PRÓPRIA VIDA?

Trecho extraído do livro "Partono i Bastimenti", de Matilde Cocchiaro, Editora Città Nuova, 2009


Ginetta, ainda muito jovem, começa a refletir sobre sua vida futura. O casamento lhe agrada, mas ao mesmo tempo sente-se atraída por uma existência entregue totalmente a Deus. Quando ainda era uma pré-adolescente, no dia da festa de São Luiz escuta falar dele como o "santo da virgindade". Escreve: Uma frase ficou impressa em mim: os virgens, quando entrarão no Paraíso, seguirão o Cordeiro por toda parte. Com a fantasia de uma jovem, imagina-se passeando no Reino dos Céus com muitos outros virgens. Mas aquilo que mais me atraia era que esses virgens cantavam "um hino", uma canção maravilhosa, conhecida só por eles. Essa idéia exerce um fascínio especial em Ginetta que, desde pequena, demonstra uma sensibilidade acentuada para a arte e para a música. Dias depois, escutando a mãe que fala com uma amiga sobre o futuro das filhas, ela intervém com seriedade e convicção: Mamãe,eu não me casarei.
Naquele período, a morte do pai marca a sua vida de uma maneira muito forte. Não consegue se conformar. Volta à sua mente a generosidade, o bom exemplo: os ensinamentos dele estão diante dela como pontos luminosos e empurrões que a impulsionam a fazer o mesmo. Estava sempre pronto a ajudar os outros, inclusive economicamente, sem se preocupar com os próprios interesses. Uma vez, para salvar um parente da falência, não hesita em tirar do próprio bolso. AS filha, no entanto, nunca o tinham escutado reclamar.
A lembrança do dia em que o pai teve de ser hospitalizado é vivo no coração de Ginetta. (...) As filhas, dando turno com a mãe, vão sempre visitá-lo. Que choque para todas quando, um dia, chegando no hospital, recebem bruscamente a notícia pelos médicos: "O papai havia falecido repentinamente". Pensar – escreve Ginetta – que naquele último momento ele estava sozinho, pra mim foi uma dor ainda maior.
Esse sofrimento tão duro faz com que ela sinta de passar de maneira brusca e violenta da despreocupação da infância para a maturidade.
Profundamente provada, a família se une de maneira muito mais forte, procurando ajudar-se. Eram tempos muito difíceis, mas a mamãe, trabalhadora como era, nunca nos deixou faltar nada. Com a sua ajuda, Ginetta pôde continuar os estudos e receber o diploma de professora primária.
Ela está na idade das primeiras e importantes escolhas: Eu me lembrei daquelas palavras que havia escutado de criança: "Seguirão o Cordeiro... cantarão um hino, por toda a eternidade". E como um imperativo: Não, eu não me casarei! Gostaria de realizar esse sonho fascinante: "Segui-Lo na terra e por toda a eternidade".
Logo começa a procurar trabalho indo bater, sem se envergonhar, em muitas portas. Em pouco tempo consegue um lugar como professora na escola materna de Villamontagna, na periferia de Trento e, durante as férias, um trabalho como inspetora numa colônia do Estado. Ginetta percebe a presença de Deus nos acontecimentos cotidianos e o amor de um Pai que cuida dela. Inclusive o vazio deixado pelo pai é preenchido, e experimenta paz e segurança.
Nunca me senti órfã – escreve – porque descobri que sou filha de um Pai que em todas as ocasiões me revelava a Sua presença protetora. Até mesmo a vaga de trabalho como professora primária lhe parece um presente Dele e se empenha com entusiasmo, sem medir sacrifícios. Levanta-se bem cedo e percorre à pé os quilômetros que a levam até Villamontagna, passando por Cognola e Tavernaro. Na bolsa, leva o lanche e o almoço, pois volta para casa somente no fim da tarde. Ela gosta muito dessas caminhadas; no silêncio, em contato com a natureza, pode se recolher e rezar, encontrando um relacionamento sempre novo com Deus e com Maria. São momentos preciosos que lhe dão a possibilidade de saborear uma felicidade tão grande que a faz se sentir “dona do mundo”. (...)
Para ela, é um período de profundas reflexões. Mais madura, o questionamento sobre o próprio futuro apresenta-se seriamente. O matrimônio já estava descartado no seu coração. Mas não sente a vocação para as outras estradas (convento, etc.). Para Ginetta é um drama, pois não encontra nada condizente com o que sente. (...) Nem imaginava que Ele teria encontrado para mim uma estrada tão nova!
(...) Encontra outro trabalho como professora, com um salário melhor, numa escola infantil em San Michele all’Adige, distante de Trento. Devido à distância, passa a semana em San Michele, num quarto alugado. É a primeira vez que fica fora de casa, mas não tem dificuldade de inserir-se no novo ambiente. Ali também havia uma igreja, e um sacrário – escreve –; na bolsa tenho o crucifixo de ferro: meu companheiro inseparável... para mim, ter Deus era ter tudo!

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