Trecho do livro "Ginetta. Uma VIDA pelo IDEAL da UNIDADE", pg. 171
Quando Chiara me chamou e disse: “Será você a abrir um centro do Movimento no Brasil”, a partir daquele momento comecei a pensar: Não seria melhor, talvez, que fosse outra pessoa no meu lugar? Mas não disse nada a ninguém, só comecei a rezar; rezava três terços por dia: os mistérios gozosos, na intenção da unidade das Igrejas; os dolorosos, pela unidade com os que não crêem; e os gloriosos, pela unidade no interior da Igreja Católica. E isso para que se cumprisse a vontade de Deus bem, para que não fosse uma permissão Dele.
No dia da viagem, diante daquele navio, Andrea C, a um certo momento ouvi um aviso pelo alto-falante. Esperava ouvir: “Atenção, atenção, senhora Ginetta Calliari, deve voltar para Roma!” Mas não era, o aviso não tinha nada a ver comigo.
Entramos no navio e quando estávamos na metade do caminho, no coração do oceano, mais ou menos, perto da linha equatorial, ouvi uma campainha, como se fosse um telefone, que vinha do andar de cima da cabine. Como era a primeira vez que viajava para tão longe, ingenuamente pensei: Vai ver que vão me chamar.
Depois, uma vez em Recife, cada vez que chegava o correio, eu sempre esperava que nas cartas me dissessem que devia voltar. Enfim, estava sempre na atitude de quem iria voltar, ao mesmo tempo, porém, pronta para permanecer por toda a vida e, portanto, fazendo bem todas as coisas.
Desde o começo, nos sentimos esposas de um Deus, que é dono do mundo. Portanto, tínhamos certeza de que Ele nos entregaria o mundo. Eu sabia que chegaria o momento no qual Ele faria isso.
Se Ele tivesse deixado a escolha a mim, teria escolhido o Norte da Itália, Roma, talvez, porque nunca gostei do calor, e também como minha mãe era mais alemã do que italiana, recebi uma educação marcada pela precisão, pela seriedade, pela organização, todas essas coisas. E depois, tinha certa facilidade com as línguas; eu gostava da língua alemã.
Mas Chiara não nos convidou para escolher. Chiara, a um dado momento, nos disse que íamos sair da Europa para levar o Ideal a outro continente, a América. Qual nação? O Brasil. Cidade? Recife. Pensando na minha formação espiritual, precisava sentir o calor – porque, normalmente eu não queria o calor. A pontualidade. Eu tive de me desapegar dessa minha característica, desapegar mesmo, e tenho ainda de me desapegar. Estar no Recife significava conviver com essas pequenas coisas que eram difíceis para mim.
Antes de desembarcar do navio, fui pedir permissão para entrar onde estão as caldeiras, porque queria ver se resistia ao calor – eu sabia que estávamos indo bem para a linha equatorial.
Por ocasião do primeiro Natal que passei no Recife, no Colégio Santa Catarina, havia na sala uma árvore de Natal com algodão no lugar da neve. Lembro sempre que ali fazia tanto calor que eu tinha vontade de colocar as mãos em cima daquele algodão, porque parecia ser frio.