Trecho extraído do livro “GINETTA. UMA VIDA PELO IDEAL DA UNIDADE”.
Como Chiara era uma moça, começou a transmitir essa vida a moças. Porque ela não conhecia o plano de Deus, o que Deus queria, mesmo percebendo desde o início que era uma espiritualidade feita para todos, porque jorrava do Evangelho, e o Evangelho é feito para todos. Mas ali éramos somente nós, algumas moças; depois havia um padre, que era o diretor da Ordem Terceira de São Francisco, havia um irmão, religiosa da mesma família franciscana, havia frei Boaventura e, por fim, um jovem também da Ordem Terceira. Lembro-me de que Chiara, e somente ela, tinha contato com estas últimas três pessoas. Mas nós nunca tínhamos tido um contato com a parte masculina.
Quando Chiara foi para Roma, em 1949, comecei a transmitir a Palavra de Vida àquelas pessoas que tinham contato conosco e a visitá-las.
Fui à casa do nosso primeiro focolarino, Marco Tecila, eletricista, que conheceu Chiara e as suas primeiras companheiras nos tempos de guerra.
Aliás, foi assim que ele conheceu o Ideal: nós tínhamos um fogãozinho elétrico para fazer a comida. Acontecia que Chiara nos chamava de vez em quando para nos falar de Deus; e nós permanecíamos ali encantadas a ouvir e nos esquecíamos de que tínhamos deixado o leite no fogo! O leite derramava e queimava a resistência. Assim, precisávamos de um eletricista. E veio Marco. Ele ficava sempre trabalhando, mas às vezes escutava alguma coisa.
Então, comecei indo visitar a mãe dele. Lia a Palavra de Vida com ela. Fiz a mesma coisa com uma vizinha da casa onde eu morava. E começamos, um a um. Toda semana íamos transmitir as experiências da Palavra de Vida, porque naquela época toda semana tínhamos uma frase nova.
Portanto, era sempre alguém da parte feminina. Acontecia que essa pessoa ficava impressionada, talvez falasse ao marido e, depois de uma segunda, terceira vez, também o marido estava conosco. Mais tarde, em outra circunstância, ia o filho; em outra circunstância, o colega; em outra circunstância, um parente de passagem... Assim, eu começava a ver que, no meio da parte feminina, aos poucos, havia sempre também algum homem.
Entre eles, estava também o pai de Chiara.
Eu conseguia fazer encontros para uns trinta grupos.
E como é que se fazia para realizar esses encontros? Eu aproveitava o intervalo que as pessoas tinham no trabalho entre o expediente da manhã e o da tarde. E de um intervalo a outro – eu tinha uma bicicleta – passava de um encontro para outro, de um encontro para outro.
Não havia ônibus naquela época, nem tínhamos telefone. O encontro era mais ou menos de quarenta e cinco minutos. O tempo necessário para se despedir, sair de bicicleta e, depois, chegar até o expediente da tarde.
Além desses encontros pessoais, realizava um encontro plenário todo mês. Todas essas pessoas que procurava encontrar para viver em unidade a Palavra de vida eu as convidava para o plenário.
(...)
Um dia, eu vi que havia três homens. E para nós era uma novidade. Nos pequenos encontros havia homens, como eu disse: o marido, o tio, o avô, o irmão, o vizinho... porque todos ficavam interessados, todos, todos; a parte masculina dava uma resposta espetacular – lembro-me bem.
Mas ali se tratava de um encontro maior! Chiara nos acostumou a não ver nem homem nem mulher, mas a ver Jesus em todos. Portanto, homens ou mulheres, para nós, eram a mesma coisa; tratava-se de fazer a vontade de Deus naquela situação que representava uma novidade.
Pensei comigo mesma: Depois, direi a eles, com toda a caridade, que nos pequenos encontros fico feliz em me encontrar também com eles, mas talvez neste encontro aqui, da parte feminina, é melhor que não venham. Formulei esse propósito.
“O homem propõe e Deus dispõe”. Não foi necessário que eu fosse até eles; foram eles que vieram até mim primeiro. E me disseram:
– Olhe, por que somente as mulheres querem se santificar? Também nós queremos nos santificar.
Eu disse:
– Vocês esperem dois dias, que vou dar uma resposta.
Perguntei-me: Quem é que me diz a vontade de Deus na ausência de Chiara? É o bispo. Contei-lhe essa experiência, e ele me deu a sua benção.
Lembro-me de que passou para a história o número: cinqüenta homens, de todas as idades e classes sociais.
(...) Tudo nasceu tão espontâneo!... Mas era a hora de Deus.
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