Trecho extraído do livro ‘GINETTA. UMA VIDA PELO IDEAL DA UNIDADE’.
No Brasil reconheci o Crucifixo vivo na pobreza do focolare; mas me parece tê-lo encontrado, de forma chocante, no povo que eu via pelas ruas, nos pobres.
Antes, não conhecia a pobreza, a fome; não sabia o que era isso: ver uma pessoa faminta, ver uma pessoa explorada, oprimida, ridicularizada, caluniada, esmagada. E, no entanto, são homens, são criaturas como nós! Digo muitas vezes que, pela sensibilidade que tenho, se não morri, foi uma graça de Deus; porque eu não conhecia este aspecto. Se você acompanha as revistas, os jornais ou lê algum livro, eles não dizem nada! Eu acreditava que ao menos os velhinhos estivessem alojados num asilo, ou os doentes em algum hospital, mesmo ruim, talvez abandonados, sem cuidados, mas que tivessem ao menos uma cama... Mas ver as pessoas dormindo nas calçadas, para mim, foi uma coisa fortíssima, fortíssima!
E ali foi se revelando um aspecto de Jesus Abandonado que eu não conhecia – conhecia mais a parte espiritual Dele, aquele abandono de Deus, aquela ausência de deus, mais tarde nas dores morais, talvez nas dores físicas, mas não muito; nas dores físicas entendi aqui no Brasil! A cada passo deparava com Ele. Encontrava-o nas ruas, nas praças, na praia – não é que ia muito à praia, mas quando, por acaso, andava pelas ruas do bairro de Boa Viagem, o encontrava!
Quando chegamos, não tínhamos nada... E teríamos vontade de bater de porta em porta, para pedir esmolas e dizer: Ajudem-me, dêem-me alguma coisa para matar a fome destes e daqueles.
E ali Deus quis um passo meu, porque vi os nossos limites, vi que não conseguíamos... Ali havia fome, havia desnutrição, havia desprezo, pessoas humilhadas, esmagadas, como se houvesse tanques de guerra passando por cima da pobreza... com uma indiferença, sem saber o que faziam. Tanques que passam por cima, sem parar, sem olhar, sem piedade, com o coração de pedra! Aquilo que na Europa eu não conhecia... é uma experiência que fiz somente aqui! Foi algo duríssimo, porque deparei com os meus limites, os nossos limites.
Precisávamos da comunhão dos bens para irmos para frente... E foi ali que entendi: Somente Deus pode fazer alguma coisa. Deus é Pai! Um Deus que nós temos de apresentar. Trata-se de um coletivo, um Deus que é um coletivo, ou seja, as comunidades.
Tínhamos, diante de nós, um povo sem Deus. Aquele que é esmagado está sem Deus, pois quem é que lhe fala de Deus?! Aquele que está por cima talvez tenha conhecido Deus, mas... não se interessa. E aquela situação era como um grito, como se se apresentassem somente estas palavras: Deus, Deus, Deus, Deus! E esse grito precisaria ser multiplicado. Ali, entendi o pai-nosso, sobretudo a segunda parte: “O pão nosso de cada dia nos daí hoje”.
Mas assistia a tantos milagres, a tantos milagres na cidade de Recife, mas tantos mesmo! Seria preciso escrever livros e mais livros para dar glória a Deus, para dizer que o Evangelho é verdadeiro, que, se tomamos as palavras de Deus ao pé da letra, Ele responde. É uma coisa incrível!
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