Cidade Nova: Qual era seu projeto de vida, e o que mudou após o encontro com Chiara Lubich?
Ginetta Calliari: Nasci numa família católica e minha mãe nos deu uma formação cristã. Muitas vezes, quando eu era criança, saía de casa sem dizer nada a ninguém e ia à igreja. Ficava lá, com Jesus Eucaristia, a quem chamava de Deus vivo. Mas havia um grande contraste, por exemplo, entre essa minha exigência e o meu comportamento em casa. Eu não ajudava em nada e, por ter uma personalidade muito forte, todos deviam ceder às minhas vontades.
Ginetta Calliari: Nasci numa família católica e minha mãe nos deu uma formação cristã. Muitas vezes, quando eu era criança, saía de casa sem dizer nada a ninguém e ia à igreja. Ficava lá, com Jesus Eucaristia, a quem chamava de Deus vivo. Mas havia um grande contraste, por exemplo, entre essa minha exigência e o meu comportamento em casa. Eu não ajudava em nada e, por ter uma personalidade muito forte, todos deviam ceder às minhas vontades.
Tinha muitos ideais. Era apaixonada pela arte, pela música, por tudo o que fosse expressão de beleza. Era sedenta de verdade e amava as “minhas” montanhas! Para mim o homem valia pelo que sabia, pelos seus conhecimentos. Dedicava todo o meu tempo livre ao estudo e à leitura.
Quando conheci Chiara, aconteceu uma revolução em mim. Todos esses meus ideais desapareceram como chama de vela diante do sol. Uma grande luz invadiu a minha alma, tomou posse do meu ser. Entendi que aquela luz era Deus. Compreendi profundamente que o meu ideal na era mais a arte, a música, a filosofia, as montanhas... O meu ideal era Deus. E o escolhi como “o tudo” da minha vida. Começou, para mim, uma aventura maravilhosa!
Naquele momento, dei-me conta de que o meu amor por Deus, até então, tinha sido puro sentimentalismo. Descobri que a medida desse amor deveria ser a medida do meu amor para com o próximo. Comecei a amar minha mãe, a ajudá-la a lavar a louça, a varrer a casa, comecei a ajudar as minhas irmãs... Não existia mais o simpático e o antipático, o mais inteligente e o menos inteligente, o saudável e o doente: Jesus estava presente em todos. Ao ler o Evangelho, entendi que é necessário amar os inimigos, fazer o bem a quem nos faz o mal... Entendi que eu poderia chegar a Deus através do irmão.
Cidade Nova: Após alguns anos com Chiara, você veio ao Brasil. Como isso aconteceu?
Ginetta Calliari: Em 1958, duas focolarinas e um focolarino vieram para a América Latina com uma missão: escolher o lugar mais adequado para dar início ao Movimento. Visitaram Recife, São Paulo, Montevidéu e Buenos Aires. Analisando objetivamente, o lugar menos indicado era Recife: um clima quente demais para europeus. Porém, na viagem de volta, problemas técnicos levaram o avião a fazer um pouso de emergência nessa cidade, onde ficaram alguns dias.
Foi a oportunidade para um verdadeiro encontro! Nele, um pequeno grupo de pessoa decidiu ir à Itália com o objetivo de conhecer melhor o Movimento. Não eram ricos, não tinham dinheiro, mas fizeram uma grande comunhão de bens e conseguira viajar! Eram todos de Recife... Isso foi o sinal de que aquela era a cidade mais adequada para tornar-s o berço do Movimento no Brasil e em toda a América Latina.
Pouco tempo depois, Chiara me chamou e me comunicou que eu deveria vir para cá. Não se tratava de uma viagem breve, tratava-se de abrir dois centros do Movimento no novo continente; um masculino e um feminino.
Numa conversa pessoal com Chiara, ela me entregou um crucifixo. Não um crucifixo de madeira, como os dos missionários que partem em missão, mas um crucifixo vivo, Jesus crucificado e abandonado que grita: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”.
Vim para o Brasil com a missão de apresentar Jesus crucificado e abandonado ao povo brasileiro. Vim para dar testemunho de que aquele Deus que muitos pensam poder encontrar somente na outra vida está aqui, presente entre nós, dentro de nós, ao nosso lado: podemos falar com ele sempre!
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