Ginetta Calliari nasceu em Trento, norte da Itália, em 15 de outubro de 1918.
Em 1944 conheceu Chiara Lubich, fundadora e presidente do Movimento dos Focolares, e tornou-se uma de suas primeiras companheiras.
Em novembro de 1959, Ginetta desembarcou no porto de Recife. Com ela, vieram outras três focolarinas e quatro focolarinos, que iriam iniciar no Brasil os dois primeiros centros do Movimento para além das fronteiras européias.
Após uma permanência de cinco anos no Nordeste, Ginetta foi para a cidade de São Paulo e, em 1969, para o município de Vargem Grande Paulista, de onde, durante cerca de trinta anos, acompanhou pessoalmente a fundação de outros centros de irradiação do Movimento dos Focolares no Brasil: em Brasília, Manaus, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Maceió, São Luís e, passo a passo, o desenvolvimento da Mariápolis Ginetta, sede nacional dos Focolares.
A Mariápolis Ginetta (que tem hoje cerca de 300 habitantes) é uma das 30 cidadezinhas-testemunho do Movimento: esboço de uma sociedade nova, expressão de liberdade e igualdade, de unidade.
A Mariápolis tornou-se espaço de diálogo: entre católicos, entre cristãos de várias denominações, com fiéis de outras religiões e pessoas que, mesmo sem um referencial religioso, buscam a vivência de valores universais.
A ideal de unidade tem reflexos também no tecido social, nos setores da educação, da saúde, da política, da arte, da promoção humana, etc. Em todo o Brasil estão em andamento centenas de projetos sociais, animados pelo Movimento dos Focolares.
Vamos percorrer algumas etapas da vida de Ginetta que nos levam a perceber o anseio de justiça característico de sua vida e que prepararam a sua alma para o protagonismo na concretização da EdC no Brasil.
Em 1944, ela encantou-se com uma experiência, contada por sua irmã mais nova, Gisella, sobre a comunhão que Chiara e suas primeiras companheiras faziam de roupas que consideravam a mais do que o necessário, em prol das pessoas carentes. Diante desse episódio, Ginetta comentou: “Que extraordinário! Isso mudará o mundo!”
Em novembro de 1959, ao se despedir do grupo de focolarinos que viajavam para o Brasil a fim de abrir os primeiros focolares, Chiara entregou simbolicamente a Ginetta o Crucifixo vivo, Jesus Abandonado. Chiara dizia: “Você o apresentará ao povo brasileiro e verá a resposta!”. Chegando a Recife – Ginetta mesma conta – “foi um choque constatar a desigualdade social, a discriminação, a fome que transparecia nos rostos”. Era o encontro face a face com o Crucifixo vivo. Disse, então, a si mesma: “Aqui não dá para permanecer passivo. Alguma coisa precisa mudar. O que precisa mudar? O ser humano”. E concluiu: “É preciso homens novos, com uma mentalidade nova, de modo que surjam estruturas novas e, de conseqüência, cidades novas, um povo novo!”
Foi o amor ao Crucifixo vivo, identificado nas pessoas marcadas por todo tipo de sofrimento, que pautou a vida e a ação de Ginetta e dos membros do Movimento desde aquela época, inspirando inúmeras iniciativas de cunho social com o objetivo de contribuir na resolução da situação de miséria de muitas pessoas nas várias regiões onde viviam.
Na década de 1970 e 1980, quando fervilhavam na América Latina os movimentos sociais, tendo diante de si todas as pessoas dos Focolares que tiveram a própria vida transformada pelo Ideal da unidade – inclusive várias provenientes das favelas – Ginetta teve a idéia de organizar um livro que recolhesse todas essas experiências. O livro trazia como título “O Evangelho força dos pobres” (traduzido em italiano, holandês e espanhol) e adotado inclusive como livro-texto em algumas escolas. Foi um sucesso, e suscitou logo outro: “O Evangelho no dia–a-dia”, seguido de um terceiro, “Quando o Evangelho entra na família”.
Em 1991, Chiara Lubich, a fundadora do Movimento dos Focolares, veio ao Brasil, a Vargem Grande Paulista, onde a Mariápolis se localiza. Ela lançou, para todo o país, a idéia da “Economia de comunhão na Liberdade” (EdC). Mais precisamente, no dia 29 de maio de 1991. Local: auditório da Mariápolis Araceli, hoje Mariápolis Ginetta.
No projeto EdC se articulam em harmonia princípios sociais e econômicos nunca antes justapostos: economia, solidariedade e liberdade. A novidade está na distribuição do lucro, que é dividido em três partes: para o re-investimento na própria empresa; para ir ao encontro dos necessitados; para a formação de pessoas com uma mentalidade aberta à “cultura da partilha”.
A participação de Ginetta Calliari na sua concretização foi determinante, pela sua adesão imediata à proposta e pela sua profunda convicção de que ali estava uma resposta à complexa problemática social.
A idéia, inspiração genial, estava lançada; tratava-se de concretizá-la. Por onde começar? Pautando-se nas palavras de Chiara, Ginetta e os dirigentes do Movimento no Brasil reuniram-se para encontrar caminhos de atuação e traçar metas. De modo especial, a implantação do Pólo Empresarial Spartaco, pioneiro na concretização da idéia de Chiara, requeria esforços, recursos, idéias e, especialmente, muita fé. O Brasil atravessava um período de recessão econômica; muitos estabelecimentos estavam fechando, e os membros do Movimento eram convidados a abrir empresas!
Ginetta desempenhou um papel pioneiro na implantação do Pólo Empresarial Spartaco, a 4 km da Mariápolis Ginetta. Atualmente estão em funcionamento no pólo seis empresas da EdC. No mundo inteiro, são mais de 700 empresas e atividades produtivas, das quais 100 no Brasil.
Com a sua típica fé em Deus, Ginetta ajudou moral e espiritualmente não só empresários, mas também funcionários e acionistas, não deixando que a chama da EdC se apagasse no coração de ninguém. Ela olhava para frente, sabia que o projeto era uma inspiração de Deus; portanto, os obstáculos que apareciam pelo caminho seriam trampolins para passos ainda mais decididos: quantas experiências de leis que mudavam e de novas receitas financeiras, viabilizando o prosseguimento da iniciativa. Profissionais e até famílias inteiras, impulsionados pela fé que Ginetta tinha, mudavam-se de suas cidades para trabalharem pela EdC.
Em 1996 nasceu o Movimento Político pela Unidade, que vem se desenvolvendo também no Brasil: reúne políticos de diferentes partidos e ideologias que, antes de tudo, acreditam nos valores profundos e eternos do homem e, inspirados neles, atuam na política. Não se trata de um novo partido político. É o método da política que é transformado: mesmo permanecendo fiel às próprias aspirações autênticas, o político da unidade ama a todos, buscando aquilo que une.
Em maio de 1997, Ginetta recebeu na Mariápolis o então vice-presidente da República, Dr. Marco Maciel.
Em 1998, representando Chiara Lubich, ela proferiu um discurso na Câmara dos Deputados em Brasília: “O Movimento dos Focolares nos seus aspectos políticos e sociais”.
Em 1999, Ginetta acolheu na Mariápolis os parlamentares da Comissão Mista para o Combate e a Erradicação da Pobreza no Brasil. Eles visitaram a Mariápolis e o Pólo Spartaco pra conhecerem o projeto da EdC.
À distância de 10 anos da morte de Ginetta e 20 anos do lançamento do projeto Economia de Comunhão (EdC), lembramos esses dois eventos na profunda ligação que têm entre si.
Nas últimas palavras antes de morrer, Ginetta recordava a frase das Escrituras que, ao longo de sua vida, a ouvimos repetir em várias situações: “Sem derramamento de sangue não há redenção”.
Em outra ocasião, respondendo a alguém que lhe tinha perguntado sobre o andamento da EdC, Ginetta exclamou “É sangue da alma!” É a profunda convicção da verdade contida na lógica do Evangelho: é da morte que nasce a vida, é morrendo na terra que o grão de trigo produz frutos! Essa certeza sempre acompanhou Ginetta em tudo o que fez e viveu.
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