segunda-feira, 3 de outubro de 2011

NO SACRÁRIO ELE NÃO NOS PEDIA NADA, MAS NO IRMÃO, TUDO!


Trecho extraído do livro “Ginetta. Uma vida pelo Ideal da Unidade”.

Desde quando começamos a ver Jesus nos mais pequeninos, nos pobres, os milagres da Divina Providência começaram a chover na nossa pequena família espiritual, o focolare. Havia a guerra, toda a cidade estava sem leite, e ao focolare chegava leite em pó; eram quilos e quilos que eram dados aos pobres e a todos que pediam. “Dá ao que te pede” (MT 5,42).
À falta de leite se juntava uma enorme carestia de carne, e a carne chegava aos quilos e quilos... Chegavam aos quilos peixe em conserva, farinha, batatas, feijão, ervilha e frutas.
“Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas” (MT 6, 33).
Buscávamos incansavelmente o seu Reino, e o acréscimo vinha, para nós e para todos os próximos que a vontade de Deus colocava ao nosso lado. Da mesma forma que as coisas chegavam, elas eram dadas. Nada deveria ficar parado. Eram caixas que entravam e caixas que saíam. (...)
O verbo “cansar-se” não era conhecido; muito menos o verbo “dormir”. O ronco dos aviões de dia e o ronco do Pippo, à noite (avião usado durante a guerra para causar medo às pessoas, sobrevoando as cidades durante a noite), faziam entender a brevidade do tempo, o valor da vida. Aliás, tínhamos a sensação, a certeza, de não ter amado a Deus. Assim, queríamos nos dirigir a todo próximo para demonstrar-lhe o nosso amor. No sacrário, Ele não nos pedia nada, mas nos seus irmãos, tudo.
(...) A casa onde Chiara e algumas das suas primeiras companheiras moravam, ainda em 1944, era um vai-e-vem de pessoas para dar de comer espiritual e materialmente. Vinham os famintos, os abandonados, os fracos, os aflitos, os pecadores. Vinham todos, sem distinção. (...) E os famintos saíam saciados; os maltrapilhos, cobertos; os aflitos, consolados; os fracos, fortalecidos; os pecadores saíam convertidos, os pobres, enriquecidos, mais do que de dinheiro, enriquecidos de Deus!!!
Em meio à pobreza da guerra, pediam tudo a Chiara. Lembro que, quando encontrei as suas companheiras, fiquei muito impressionada. Voltei para casa e procurei logo tirar farinha da despensa, procurei batatas, procurei um pouco de verdura, e fui entregar a Chiara. Mas depois vi que não dava certo, porque era pouco demais. E me recordo que entrei numa igreja e pedi a Deus um emprego para poder ajudar Chiara e suas primeiras companheiras com o meu ordenado. Pedi, mas não encontrei, pedi outra vez e não encontrei... Estava quase desanimando... No entanto, precisava acreditar e, depois, encontrei um emprego bom. E assim consegui ajudar Chiara.
(...) ... uma vez veio uma família pedir alguma coisa, porque não tinha com o que viver; tiramos tudo o que possuíamos, comprometendo a vida das focolarinas; mas depois a providência veio. A providência existe, existe! Podemos acreditar em Deus e pedir a Ele!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Graças alcançadas por intercessão de Ginetta:


Ø     Três anos atrás meu marido foi submetido a uma cirurgia e, a partir dali, ele ficou na cadeira de rodas. Para sustentar a família tive de ir trabalhar numa outra cidade, onde consegui um salário mais alto. Agora estava tentando voltar a trabalhar na nossa cidade, para estar mais perto do meu marido e dos filhos, que só via nos finais de semana. Parecia impossível conseguir essa transferência, havia buscado todas as ajudas possíveis e todas as possibilidades existentes. Quando soube que Ginetta está no Céu e tão perto de todos nós, pedi-lhe essa graça. No final do dia recebi a notícia de que a transferência seria possível.

Ø     Depois que Ginetta partiu para o Paraíso, falo com ela continuamente e a sinto perto de mim, que me responde e me guia nas pequenas e grandes coisas do dia-a-dia...

Ø     Fazia um ano que eu estava sem trabalho e era eu que trazia a ajuda econômica mais consistente na família. Um dia eu pedi a Ginetta que me ajudasse nessa situação... No dia seguinte, fui chamada... Eu havia feito um concurso um ano antes para trabalhar na prefeitura. Senti que Ginetta me ouviu!”.


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

UM ARTIGO NO JORNAL ITALIANO “L’ADIGE”


LAVIS – “Uma das coisas que mais me impressionavam em Ginetta era constatar que entre o que ela dizia e aquilo que era não havia dicotomia. Palavras e vida tinham a mesma consistência sem lacunas”.

Com estas palavras, profundas e significativas, o então arcebispo de Brasília, D. João Braz de Avis, deu início ao processo de beatificação de Ginetta Calliari (lavis, 1918, são Paulo 2001) no dia 8 de março de 2007.

Ginetta foi uma das primeiras discípulas de Chiara Lubich e uma das fundadoras do movimento dos Focolarinos.
Em 1959, Ginetta abandonou a terra natal para levar ao Brasil o “crucifixo vivo” que a própria Lubich lhe havia entregue. A vida de Ginetta foi dedicada inteiramente aos mais necessitados, direcionada exclusivamente para criar um mundo novo privo de desigualdades sociais, por meio de homens novos transformados pelo espírito do Evangelho.

Ginetta Calliari morreu no dia 8 de março de 2001 no Brasil, depois de um longo período de doença. E no dia 8 de março de 2007 teve início o processo de beatificação. (...)
A própria Lubich, numa conferência telefônica com todos os centros do Movimento dos Focolares no mundo, em 19 de abril de 2009, disse: “Ginetta viveu unicamente para a glória de Deus. Foi puro serviço, serva, como Maria. Se os pequenos continuam a considerá-la como uma irmã, os grandes da sociedade e da Igreja a reconhecem como guia e lhe são profundamente gratos”.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O CONCERTO DE VIOLINO E VIOLÃO CLÁSSICO FOI MARAVILHOSO!!!

Caros amigos,

Dia 20 de agosto, sábado passado, tivemos um concerto maravilhoso, aqui na Mariápolis Ginetta, como havíamos comunicado.
Eram dois os artistas:
ROGÉRIO DENTELLO (violão - Brasil): Nós já o conhecemos. Foi aluno do famoso violonista clássico Paulinho Nogueira. Estudou em São Paulo, na Itália e na Alemanha. Como concertista, acumula cerca de 350 concertos em vários países: Brasil, Japão, Alemanha, Itália, França, Hungria, Irlanda, Luxemburgo e Bélgica. Foi premiado na Polônia como compositor em 2008 e em 2009. Tem 6 CDs próprios, além de suas composições gravadas por outros artistas.

MICHAEL J. JAMES (violino - USA): Tem mais de 30 anos como professor e concertista. Iniciou seus estudos de percussão e violino aos 4 anos de idade. É graduado em bacharelado em Artes e possui mestrado e doutorado em Educação. Além de atividades musicais, exerce intensa atividade como professor e coordenador no Boston College (USA). Veio ao Brasil pela primeira vez.


A sintonia entre os dois artistas foi mágica!
O repertório viajou das composições lindas, ágeis e delicadas do Rogério Dentello, a Pixinguinha, Ernesto Nazareth, Paulinho Nogueira, Caetano Veloso e Villa Lobos; a Massenet e Bach.
Eles conseguiram eletrizar o público que, por várias vezes explodiu em aplausos intermináveis. No final, a platéia toda, aplaudindo em pé, extraiu deles um bis.
Realmente valeu!!!


 

terça-feira, 9 de agosto de 2011

CHIARA E GINETTA

Trecho extraído da revista Cidade nova de março de 2011, pg. 29.

No dia 8 de março, decorrem dez anos do falecimento de Ginetta Calliari, uma das primeiras companheiras de Chiara, que se distinguiu, de modo especial, por sua estreita unidade com ela. Para Ginetta, era indispensável ser fiel ao "Pacto de Unidade" feito com Chiara nos primeiros anos do Movimento dos Focolares e beber constantemente da fonte do Carisma da Unidade par apoder transmiti-lo, de modo autêntico, a todas as pessoas que encontrava. Seu processo de beatificação e canonização está em andamento desde 2007.

Ao escrever uma autobiografia, Ginetta conta:
A seguir, transferi-me novamente à Praça dos Capuchinhos, onde Chiara morava. Era um privilégio ímpar. E eu, como se diz, caminhava “na ponta dos pés” para conseguir escutar sempre “aquela voz” e não romper a estabilidade de Jesus no meio.
Dormia no quarto de Chiara e, uma noite, quando eu já estava me abandonando ao sono, escutei-a me dizer: “Ginetta, tenhamos Jesus em meio!”. “Sim, Chiara!”. Pouco depois ela me disse novamente: “Ginetta, tenhamos Jesus em meio!”. “Sim, Chiara!”. Respondi com toda a alma. E de novo: “Ginetta, tenhamos Jesus em meio!”. “Sim, Chiara!”. Dessa vez eu estava inteiramente ali, com ela, no Essencial. Então Chiara continuou: “Tenhamos Jesus em meio e peçamos a Ele para ir às casas dos que sofrem, dos doentes, que entre nos casebres dos pobres, levando a Sua paz e o Seu Amor”.
Esse tempo, transcorrido com Chiara, permaneceu na minha memória como um dos períodos mais lindos da minha vida!"

"Em pouco tempo, o Ideal (da Unidade) foi espalhando-se em várias cidades da Itália, inclusive em Roma. Dali começou a chegar muita correspondência, freqüentemente solicitando a presença de Chiara na “capital do cristianismo”.
Chiara foi a Roma pela primeira vez e me pediu para acompanhá-la. Daquela viagem, eu me lembro da forte sensação de pequenez e do grande desejo de estar unida a Chiara. (...). Chegou o momento no qual tivemos que nos separar dela pela primeira vez... Ninguém teria podido substituí-la, mas precisava que alguém o fizesse e Chiara pensou em mim. Daí para frente os fatos são conhecidos."

segunda-feira, 13 de junho de 2011

UMA PESSOA COM UM CARISMA ACIMA DO NORMAL

TESTEMUNHO SOBRE GINETTA CALLIARI

Ginetta, Livia e Gisella
 Sou Antonietta Zeni, prima de Ginetta Calliari. Nasci na cidade de Cembra e atualmente moro em Trento, norte da Itália.
Sou prima dela em segundo grau, mas gostaria de explicar. A minha avó e a mãe de Ginetta eram irmãs. Na minha família, a minha mãe e meus dois tios, Luis e Mario, eram primos de Ginetta em primeiro grau. Contavam, na nossa família, que as três irmãs Calliari – Lívia, Ginetta e Gis – iam com freqüência à nossa cidade de Cembra, enquanto a avó materna era viva.
Esses três primos (minha mãe e meus dois tios) e as três irmãs (Lívia, Ginetta e Gis) se davam muito bem e passavam longos períodos juntos em Cembra, no verão.
Logicamente não me lembro disso porque não tinha nascido ainda, mas minha mãe e meus tios me falavam sobre isso. Diziam sempre que Ginetta tinha um caráter muito forte, muito determinado; aquilo que pensava ou dizia, era sempre atuado.

Conheci o Movimento dos Focolares graças ao meu marido, falecido há 20 anos, porque ele era um simpatizante do Movimento.
Eu pude conhecer bem a Gis, porque Ginetta já estava morando em São Paulo. Pude conhecê-la somente quando ela vinha a Roma, todo ano, no mês de outubro (para os encontros com Chiara Lubich, de todos os responsáveis do Movimento dos Focolares no mundo inteiro).
Num primeiro contato, Ginetta parecia muito séria, muito decidida nas suas opiniões. Porém, quando falava, transmitia uma doçura que não sei de onde provinha – da alma, do seu pensamento..., eu não sei.
Ela ficou hospedada na minha casa, para minha grande alegria. E ali eu tive a sensação de conhecer uma pessoa com um carisma acima do normal.
Segundo eu, Ginetta era uma mulher muito corajosa, muito decidida, mas ao mesmo tempo uma pessoa doce. Claro, considerando aquilo que ela realizou no Brasil, aquilo que construiu, criou, dá para entender que era uma pessoa com uma grande capacidade, com um carisma fora do comum.
Precisaria que existissem muitas pessoas como ela. Ela me ensinou a ser altruísta, a doar sempre, a compreender os outros, principalmente os mais fracos.

Antonietta Zeni



segunda-feira, 6 de junho de 2011

A MESMA DETERMINAÇÃO DE MOISÉS DIANTE DO MAR VERMELHO

TESTEMUNHO DE ALBERTO FERRUCCI SOBRE GINETTA CALLIARI



Encontrei Ginetta pela primeira vez em 1964, na Itália. Eu estava num dos meus primeiros encontros com o Movimento e à tarde ela contou a sua experiência no Brasil, com as outras focolarinas, no período do carnaval, exprimindo tanto divino que me impulsionou a fazer uma nova escolha de Deus: por isso me sinto um filho espiritual dela.
Estando com Ginetta nestes últimos anos, por causa do Pólo Industrial Spartaco, sempre senti esse grande respeito pelo outro, a sua capacidade de deixá-lo se exprimir na sua máxima liberdade, aderindo prontamente a cada sugestão. Se diante de uma proposta eu deixava escapar, por exemplo, um “... mas talvez fosse melhor...”, ela mudava tudo imediatamente.
Creio que isso se devia ao fato que ela acreditava plenamente na força da unidade (...). Ela viveu um momento muito alto na sua experiência espiritual de unidade com Chiara, a experiência de ser uma Alma só, na qual ela colheu a grandeza do Carisma que Deus confiou a Chiara, e percebeu a importância fundamental de permanecer sempre nessa unidade construída com Chiara (...). Ela tinha a convicção de que, agir assim, significava inundar o mundo de Espírito Santo, deixar Deus agir.
Ela era uma mestra no amor, que se exprimia num amor personalizado.
Ela me perguntou sobre a minha família e lhe falei de um filho, que tinha sido um gen (jovens do Movimento) e que estava passando por uma crise. Fui embora da Mariápolis para retornar à Itália, e parei no Rio de Janeiro a trabalho. À noite, chegando ao hotel, encontrei um pacote enviado por ela. Não sei como ela conseguiu fazer o pacote chegar lá antes de mim. O pacote continha uma concha grande, linda, para o meu filho.  Ela quis fazer um ato de amor personalizado a uma pessoa que não conhecia, para que fosse um “dardo de amor”: meu filho agora está casado e se reaproximou da fé; essa concha é para ele o sinal de um amor especial de Deus. (...)
Numa outra ocasião, no Pólo Spartaco, havia um novo galpão a ser inaugurado. Naquele momento, Ginetta tinha problemas de coluna e não podia caminhar. No entanto, assim mesmo ela quis participar dessa inauguração. Ela chegou para a inauguração desse novo galpão com a mesma determinação que deve ter tido Moisés diante do Mar Vermelho, quando devia abrir as águas para o povo hebreu na fuga do Egito. Num clima espiritual inesquecível, ela afirmou: “Este galpão foi construído por amor, portanto existirá também nos céus novos e terras novas”. 
(...) Essa empresa, como todas as empresas do Pólo Spartaco, de uma conversão pessoal, de um ato aparentemente irracional, que escondia uma racionalidade expressiva porque exprimia a fé no Projeto Economia de Comunhão.
Todas essas empresas nasceram de uma resposta dessas pessoas a uma vocação, que Ginetta sempre acompanhou e alimentou: uma vocação à cruz, certamente não uma vocação ao sucesso.
E Ginetta sempre alimentou essas vocações – como ela diz – com o “sangue da alma”. A sua fé sustentava essas pessoas.
Ela tinha essa determinação de não parar diante das dificuldades, era uma pessoa humanamente com um forte carisma pessoal.
Certa vez, Ginetta me mostrou a casa das Gen3 (as adolescentes do Movimento), dizendo-me: “Está vendo esta casa? Todo ano hospedamos mais de 30 adolescentes. Nós as ensinamos a dançar, ensinamos religião, ensinamos a trabalhar, ensinamos o que é uma família: depois de um ano elas vão embora, mas nenhuma delas vai mais terminar na rua”. Ao contar esse episódio no Paraguai, onde fui fazer uma conferência, uma pessoa me disse a propósito: “Enquanto Igreja, nós gastamos milhões e milhões de dólares para ajudar os pobres, mas sem resultado, porque somente os assistimos. Assim, ao invés, é a situação do homem que se transforma”.
Eis o que significa formar homens novos.

ALBERTO FERRUCCI
Focolarino casado, empresário, presidente da Associação Internacional por uma Economia de Comunhão (AIEC), diretor Responsável do Noticiário Economia de Comunhão

terça-feira, 31 de maio de 2011

COMEMORAÇÃO DOS 20 ANOS DA ECONOMIA DE COMUNHÃO

Ginetta Calliari, ao lado de Chiara Lubich, a fundadora do Movimento dos Focolares, deu a vida para que a Economia de Comunhão fincasse raízes.
Domingo passado, dia 29 de maio de 2011 – precedida por uma Assembléia de quatro dias, que contou com a presença de 650 empresários de 36 países dos cinco continentes – aconteceu uma Jornada com a participação de 1.600 pessoas, que lotaram o auditório Simon Bolívar, do Memorial da América Latina, em São Paulo.
Participaram do evento, empresários, trabalhadores, pesquisadores e estudantes de Economia, não só vindos de todas as regiões do Brasil, mas também de outros 14 países das Américas, da Ásia (Coreia e Filipinas), da África (Congo, Costa do Marfim, Quênia e Nigéria), bem como de 15 países da Europa Ocidental e Oriental. Todos reunidos no Brasil para celebrar os 20 anos da Economia de Comunhão (EdC), um projeto inovador lançado por Chiara Lubich exatamente no dia 29 de maio de 1991, em terras brasileiras, em resposta ao dramático quadro da desigualdade social materializado pela “coroa de espinhos” das favelas que circundam a floresta de arranha-céus da cidade de São Paulo.
Em 1991, quando Chiara Lubich visitou o Brasil, nosso país atravessava uma grave recessão econômica, com um índice de inflação que beirava os 500 por cento. Ao chegar a São Paulo, o impacto com as desigualdades sociais, visíveis pela extensão de favelas em discrepância com a selva de arranha-céus, inspirou-a a encontrar uma possível resposta para esse panorama dramático.
Em 29 de maio de 1991, diante de cerca de 650 pessoas do Movimento dos Focolares, reunidos na Mariápolis Araceli (hoje Mariápolis Ginetta, em Vargem Grande Paulista, SP), Chiara lançou a idéia amadurecida ao longo daqueles dias: “(...) fazer surgir indústrias, empresas, cujo lucro deveria livremente “ser posto em comum” com o mesmo propósito da primitiva comunidade cristã: ajudar em primeiro lugar os necessitados, oferecer-lhes trabalho, fazer com que não haja pobre em nosso meio. Depois, o lucro servirá para desenvolver as empresas e as estruturas para formar ‘homens novos’, porque, sem ‘homens novos’, não se forma uma sociedade nova!”
"A profecia", que nestes vinte anos "faz-se história" – como dizia o título do evento – suscitou o interesse de personalidades civis e religiosas presentes no auditório, tais como: o bispo auxiliar Dom Milton Kenan Júnior, representando a Arquidiocese de São Paulo; o xeique Armando H. Saleh, da comunidade islâmica de São Paulo; o reverendo Takayuki Nagashima, presidente do movimento budista Rissho Kosei Kai no Brasil; o secretário Eduardo Jorge, da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo; e Fernando Leça, presidente da Fundação do Memorial da América Latina.
A Jornada não foi somente uma solene celebração, mas foi realizada a partir da reflexão sobre a crise econômica internacional, com o intuito de lançar um olhar para o futuro.
Durante a manhã, o economista Rubens Ricupero, reitor da FEC-FAAP (Faculdade de Economia da Fundação Armando Álvares Penteado) e atual secretário geral da Unctad (United Natios Conference on Trade and Development), fez uma análise lúcida e crítica sobre a situação econômica mundial.
Ricupero apresentou um panorama paradoxal: as economias mais ricas (EUA, Europa e o Japão) ainda estão imersas na difícil fase de superação da crise, enquanto, graças às economias dos países emergentes (China, Índia, Brasil, México e Turquia), “a economia mundial mantêm uma tendência de crescimento, mesmo diante das dificuldades de uma expansão econômica acelerada”, esclarece o economista.
Em relação às raízes da crise econômica mundial, Ricupero teceu considerações sobre o problema ético que desembocou “no domínio das finanças sobre a economia”, um sistema financeiro “fora de controle”, que favorece “o acúmulo de riquezas sem limites” por parte de alguns especuladores, “como se não houvesse implicações sociais”, afirma. Assim, ele afirma que a percepção corrente é que "o mercado é como um Deus onipotente, onisciente, com auto-regulação".
A socióloga brasileira residente na Itália, Vera Araújo, falou sobre os efeitos da "mercantilização global" que gerou "novas patologias sociais" como “a solidão, a ansiedade, a depressão, a insegurança e o medo". A pesquisadora discorreu ainda sobre interdependência, ou seja, uma responsabilidade que "se transforme em um guia das ações"; e sobre uma cultura do individualismo e do utilitarismo que deve se encaminhar para "uma cultura de doação que gera comunhão," capaz de "transformar internamente as relações produtivas e as estruturas de produção”. Não é utopia, mas realidade. Isso é demonstrado por centenas de empresas ao redor do mundo inspiradas na Economia de Comunhão e que se encontram inseridas na economia de mercado com o objetivo de “não enriquecer sem medidas os seus proprietários, mas servir ao bem comum e ajudar a sanar as feridas causadas pela desigualdades sociais”, como declarou em sua mensagem Maria Voce, atual presidente dos Focolares. Ela ressaltou que a EdC é o testemunho de um novo caminho na Economia, ressalta Maria Voce, definindo-a como “um dos sinais de esperança".
Refletindo sobre o significado da EdC no atual contexto econômico e na sociedade global, o economista Stefano Zamagni reconhece nela "um caminho para aquela nova ordem social que encontramos na encíclica Caritas in Veritate de Bento XVI, na qual afirma que a fraternidade é condição para o desenvolvimento humano".
O evento foi encerrado com a apresentação das perspectivas para os próximos 20 anos, pelo economista Luigino Bruni. O pesquisador destacou novamente a urgência de que o capitalismo se transforme, tendo na comunhão e na fraternidade as chaves para esta mudança na direção de uma economia voltada para o bem da comunidade planetária.

terça-feira, 10 de maio de 2011

CHIARA LUBICH SOBRE GINETTA CALLIARI

Cerca de um mês após a morte de Ginetta, ocorrida em 8 de março de 2001, Chiara enviou a todos os membros do Movimento dos Focolares um pensamento sobre ela, que transcrevemos por ocasião do 10º ano da sua partida desta terra.


Rocca di Papa, 19 de abril de 2001

A unidade mais genuína
Caríssimos,

Parece realmente que Jesus não faz economia em oferecer modelos para nossa vida cristã, a todos nós e, principalmente, aos jovens. Ele os apresenta justamente nesta época tão escassa de modelos; quando muito, eles são procurados por caminhos errôneos.
Nestes últimos dias, estamos conhecendo muitos detalhes da vida de Ginetta. Alguns podem ser considerados extraordinários. No entanto, será necessário um livro inteiro para conhecê-la, ainda assim, apenas parcialmente.
Será possível identificar nesta sua riquíssima vida espiritual uma qualidade ou virtude que mais a caracterizou?
Sim: a unidade – eu creio –, a unidade mais genuína, correta, autêntica, perfeita, forte, sólida, vivida e realizada com o amor exclusivo e perseverante a Jesus Abandonado. Aquela unidade que a nossa espiritualidade comunitária nos ensina a viver, seguindo o modelo da Santíssima Trindade; aquela unidade com a qual, na medida das nossas possibilidades humanas, procuramos repetir o relacionamento entre o Pai celeste e o seu Filho, no Espírito Santo.
Desde o início da sua nova vida, a partir do seu encontro com o Ideal da unidade, Ginetta compreendeu que Deus nos doou um carisma e o ofereceu a todos por meio de um instrumento seu. Dessa convicção provinha a sua unidade total e incondicional com aquela que, de certo modo, representava a fonte desse carisma.
Ela não se apoiava em si mesma, não se voltou para si mesma, nem sequer para o que possuía de mais precioso, ou seja, a luz deste dom do qual ela também participava. Ginetta viveu como Jesus que, mesmo podendo chamar a atenção para si (Ele também era Deus, como o Pai), não o fez. Jesus “apagou-se” a si mesmo, digamos assim, orientando a todos para o Pai.
Ginetta anulou-se completamente a si mesma e, assim como Jesus Abandonado, que, reduzindo-se a nada, foi Mediador entre nós e o Pai, também ela tornou-se uma autêntica mediadora do carisma da unidade para muitos.
Ela abriu espaço ao carisma da unidade genuíno. Não lhe quis dar uma interpretação pessoal. Acolheu-o assim como ele jorrava da fonte. E colocou-se a seu serviço, vivendo-o e levando os outros a viverem-no. Daí deriva a autenticidade da sua vida, o segredo, o milagre, a capacidade de concretização e o fato de realizar obras completas. Por isso é reconhecida por unanimidade como co-fundadora daquela porção da Obra que é uma parte do mundo: o Brasil. 
Que agora, do Céu, ela nos ajude a viver assim!
Ginetta viveu unicamente para a glória de Deus. Ela foi puro serviço, serva, como Maria. Não temos nada de melhor a indicar para sabermos como agir neste próximo mês: viver o nosso Ideal, assim como o Espírito Santo nos doa por meio do instrumento escolhido por Ele. Porque assim foi Ginetta.
                                                                                Chiara

segunda-feira, 2 de maio de 2011

GINETTA A EMPRESÁRIOS E AGENTES DA EDC

Propomos a seguir trechos de dois discursos de Ginetta dirigidos a empresários e agentes da EdC, em 1994 e 1996, e que podem servir de orientação e inspiração também hoje, passados 20 anos do lançamento da iniciativa.

“Quando Chiara nos comunicou essas suas ideias fascinantes [a proposta da EdC], os nossos corações exultaram. Para nós, era como canto do Magnificat, qual Carta Magna da Doutrina Social da Igreja, que Maria, como guia da Sua Obra, proclamava para desencadear uma revolução de amor.
A adesão dos membros do Movimento foi imediata, entusiástica, comovente; dos ricos aos pobres, dos pequenos aos grandes… envolveu a todos, provocando um germinar de vida nova, de projetos a serem atuados, de ideias… uma certeza adamantina, inabalável, que saciou todas as aspirações .
Cada um sentiu-se tocado e lançou-se numa contribuição pessoal das mais variadas formas. Vimos acontecer, de modo surpreendente, uma comunhão de bens como a dos primeiros cristãos: dinheiro, jóias, terrenos, casas, disponibilidade de tempo e de trabalho, disponibilidade de mudanças de cidade, oferenda a Deus de sofrimentos e da própria vida. Também as crianças organizaram várias atividades a fim de recolher fundos, permitindo-lhes serem protagonistas neste projeto. Até mesmo os mais necessitados deram a própria contribuição, o que para alguns significava dar mensalmente 50 centavos, para outros uma galinha… Era o óbolo da viúva atraindo bênçãos do Céu.
O povo brasileiro, que Chiara considerava “magnífico, generoso, simples, pobre, mas que doa tudo, inteligente, criativo e solícito”, soube responder ao apelo!
Com o desejo ardente de concretizar imediatamente esta inspiração, iniciamos a procura de um terreno que tivesse todos os requisitos de uma região industrial, ou melhor, que tivesse principalmente a “vocação” para garantir, no futuro, um Pólo no qual as empresas, por estarem instaladas num mesmo local, pudessem testemunhar essa nova economia. Nós, os responsáveis pelo Movimento no Brasil, fomos em peregrinação a um santuário pedir a Nossa Senhora essa graça… Depois de muita procura, a 4 km da Mariápolis Araceli, encontramos uma área pronta para esta finalidade.

Partindo das palavras de Chiara: "Somos pequenos, pobres, mas muitos", estudou‑se a possibilidade de constituir uma Sociedade Anônima, da qual todos pudessem participar, mesmo com um capital mínimo. Surgiu, assim, a ESPRI S.A., graças à competência, à generosidade e ao esforço – com sacrifícios – da parte de muitos membros do Movimento que se sentiram chamados pessoalmente a colaborar e a levar adiante esse projeto divino, conscientes de tal responsabilidade.
As iniciativas eram numerosas, às vezes, minúsculas, mas alimentadas, sustentadas e encorajadas pelas palavras de Chiara.
Depois da experiência destes anos, podemos afirmar que a geografia de Deus não é a mesma dos homens, porque Deus, ao escolher o Brasil, conhecia a trágica situação econômica do País. Abrir empresas num contexto social como o nosso, no qual milhares de fábricas estão fechando por causa da crise econômica, é humanamente absurdo, é contra a lógica humana…
A “cidade terrena”, que é o Pólo Industrial, completa, na inspiração de Chiara, a “cidade celeste”, que é a Mariápolis, constituída das instalações de formação e de testemunho do Ideal da unidade. Essa “cidade terrena” revela uma economia que desce do Céu, do coração da Trindade; portanto, não pode levar em conta somente os raciocínios meramente humanos, pois Cristo quer que vivamos de fé: "Tudo é possível àquele que crê" (Mc 9,23).
Podemos ainda compará-la com uma medalha: de um lado, uma realização, que é o Pólo Industrial, que se apresenta a todos como um testemunho concreto do Ideal da unidade; do outro, Jesus Abandonado, cujo amor por parte dos agentes da EdC é a raiz escondida que tudo sustenta. A espessura da medalha são as múltiplas experiências feitas de alegrias e conquistas, mas também de suspensão, de temores, experiências essas todas substanciadas pela vivência da Palavra de Deus.
Mas é preciso que a EdC vá em frente, para que realmente não haja nenhum necessitado entre nós. Essa é a vocação à qual somos chamados, como membros da Obra de Maria: viver no século XX como a primeira comunidade cristã de Jerusalém vivia. A nossa missão não se restringe a um trabalho de assistência aos pobres; somos chamados à comunhão, a partilhar tudo, como numa família.
Portanto, hoje, mais do que nunca, o futuro da EdC depende de cada um de vocês, empresários da comunhão na liberdade.
Não posso concluir essa minha exposição sem citar as palavras de Chiara: “O que fazer? Desanimar diante de um desafio tão grande? Com certeza, não. A Palavra de Vida nos diz: “Não temas, crê somente”. É isso que peço a mim mesma e a todos vocês: não temamos, continuemos a acreditar. Assim como Deus deu coragem àqueles que se comprometeram até agora, continuará a dá-la a muitos outros que talvez estejam esperando apenas por um impulso para lançarem-se nessa maravilhosa aventura.
Embora não nos sintamos capacitados, a fé em Deus fará com que ele manifeste a sua potência levando a Economia de Comunhão a um desenvolvimento inimaginável”.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

GINETTA E A “ECONOMIA DE COMUNHÃO NA LIBERDADE”

Aproximando-se a Jornada da EdC ─ que acontecerá no dia 29 de maio próximo, na cidade de São Paulo, no Memorial da América Latina ─ reportamos um artigo do Boletim nº 4, que menciona a relação de Ginetta com essa realidade.

Vinte anos atrás, Chiara Lubich lançou, no Brasil, a idéia da “Economia de comunhão na Liberdade” (EdC). Mais precisamente, no dia 29 de maio de 1991. Local: auditório da Mariápolis Araceli, hoje Mariápolis Ginetta.
Muitas das 250 mil pessoas que até então haviam aderido ao Movimento dos Focolares no País, apesar da comunhão de bens praticada já desde primórdios deste, viviam numa situação de pobreza. Nasceu, assim, em Chiara uma idéia que se revelou extraordinariamente inovadora: criar empresas dirigidas por pessoas dispostas a colocar o lucro em comum, livremente. Uma “Economia de Comunhão na liberdade”. Desse lucro, uma parte seria usada para ajudar quem passa necessidades; outra parte, para incrementar a própria empresa; e a terceira parte, para desenvolver estruturas de formação de “homens novos” – expressão evangélica, indicando pessoas imbuídas do espírito de comunhão e fraternidade, premissa determinante para criar uma sociedade renovada. 
Para Ginetta, o lançamento do projeto EdC foi a resposta de Deus às expectativas da Obra de Maria, ou Movimento dos Focolares, no Brasil. De fato, ela e os demais dirigentes do Movimento sempre tiveram a convicção de que, se fossem fiéis ao Ideal da unidade, Deus iria mostrar o caminho que poderia solucionar também estruturalmente o problema social no Brasil.
Ginetta identificou logo a EdC – justamente por ser fruto do carisma que Deus havia dado a Chiara – como esse caminho. Desde então, ela se dedicou incansavelmente para que o projeto “decolasse” e, com a sua fé singular, estimulava os empresários que haviam aderido ao projeto, contagiando-os com a sua certeza de que se tratava de um projeto de Deus e não dos homens e que, portanto, valia a pena arriscar tudo por ele.
Vamos percorrer algumas etapas da vida de Ginetta que nos levam a perceber o anseio de justiça característico de sua vida e que prepararam a sua alma para o protagonismo na concretização da EdC no Brasil.
Nos boletins anteriores já foi citado o episódio da fuga de Ginetta e de sua irmã Gis da propriedade de uma família nobre, na província de Veneza – onde trabalhavam e da qual os proprietários queriam fazê-las herdeiras –, fuga essa em sinal de não conivência com a situação de injustiça que presenciaram no trato dos empregados.
Em 1944, ela encantou-se e sentiu-se atraída pela experiência, contada a ela por Gis, da comunhão que Chiara e suas primeiras companheiras faziam de roupas que consideravam a mais do que o necessário, em prol das pessoas carentes. Diante desse episódio, Ginetta comentou: “Que extraordinário! Isso mudará o mundo!”
Pensando na personalidade sensível à justiça social, de Ginetta, é significativo o fato que Chiara tenha confiado justamente a ela a leitura de uma carta sua à primeira comunidade do Movimento, na cidade de Trento, a partir da qual teve início a comunhão de bens que caracterizaria até hoje a vida dos membros do Movimento.
Em novembro de 1959 – como já tivemos a oportunidade de mencionar nos números anteriores –, ao se despedir do grupo de focolarinos que viajavam para o Brasil a fim de abrir os primeiros focolares, Chiara entregou simbolicamente a Ginetta o Crucifixo vivo, Jesus Abandonado. Chiara dizia: “Você o apresentará ao povo brasileiro e verá a resposta!”.
Chegando a Recife – Ginetta mesma conta – “foi um choque constatar a desigualdade social, a discriminação, a fome que transparecia nos rostos”. Era o encontro face a face com o Crucifixo vivo. Disse, então, a si mesma: “Aqui não dá para permanecer passivo. Alguma coisa precisa mudar. O quê? O ser humano”. E concluiu: “É preciso homens novos, com uma mentalidade nova, de modo que surjam estruturas novas e, de conseqüência, cidades novas, um povo novo!”
Foi o amor ao Crucifixo vivo, identificado nas pessoas marcadas por todo tipo de sofrimento, que pautou a vida e a ação de Ginetta e dos membros do Movimento desde aquela época, inspirando inúmeras iniciativas de cunho social com o objetivo de contribuir na resolução da situação de miséria de muitas pessoas nas várias regiões onde viviam.
Mas conforme a indicação de Chiara, nunca se tratou somente de dar o pão a quem tinha fome, mas de formar pessoas imbuídas da cultura do Evangelho, que convida a dar, a partilhar e, por conseguinte, a experimentar a realização da promessa de Jesus: “Buscai antes de tudo o Reino de Deus e sua justiça e todas estas coisas vos serão acrescentadas (Mt 6,33)”.
Chiara foi conhecendo a realidade dos vários países onde o Movimento estava lançando raízes e constatou as características que a concretização do Ideal ia tomando em cada região. Numa leitura da história e da sociedade à luz do Ideal da unidade, ela imaginou que a resposta que o Ideal da unidade poderia dar à América Latina seria a harmonia dos relacionamentos sociais. De fato, o amor evangélico vivido nesses países deveria levar à fraternidade humana e, portanto, à justiça social.
Na década de 1970 e 1980, quando fervilhavam na América Latina os movimentos sociais, tendo diante de si todas as pessoas dos Focolares que tiveram a própria vida transformada pelo Ideal da unidade – inclusive muitas provenientes das favelas – , Ginetta teve a idéia de organizar um livro que recolhesse todas essas experiências. O livro trazia como título O Evangelho força dos pobres (traduzido em italiano, holandês e espanhol) e adotado inclusive como livro-texto em algumas escolas. Foi um sucesso e suscitou logo outro: O Evangelho no dia–a-dia, seguido de um terceiro, Quando o Evangelho entra na família.
          Em 1991, Chiara veio ao Brasil. No dia de sua chegada, anotou no seu diário haver entendido que a sua vinda ao Brasil tinha o significado de agradecimento pelo amor e pela fidelidade superlativos de Ginetta ao carisma da unidade, causa principal das realizações maravilhosas que ela havia constatado. E intuía que algo de grande haveria de acontecer naqueles dias da sua permanência.
          Durante sua estada na Mariápolis, Chiara apresentou a proposta de uma iniciativa que imediatamente recebeu o nome de Economia de Comunhão na Liberdade.
          A idéia, inspiração genial, estava lançada; tratava-se de concretizá-la. Por onde começar? Pautando-se nas palavras de Chiara, Ginetta e os dirigentes do Movimento no Brasil reuniram-se para encontrar caminhos de atuação e traçar metas. De modo especial, a implantação do Pólo Empresarial Spartaco, pioneiro na concretização da idéia de Chiara, requeria esforços, recursos, idéias e, especialmente, muita fé. O Brasil atravessava um período de recessão econômica; muitos estabelecimentos estavam fechando, e os membros do Movimento eram convidados a abrir empresas!
Com a sua típica fé em Deus e em unidade profunda com Chiara, Ginetta ajudou moral e espiritualmente não só empresários, mas também funcionários e acionistas, não deixando que a chama da EdC se apagasse no coração de ninguém. Ela olhava para frente, sabia que o projeto era uma inspiração de Deus dada a Chiara; portanto, os obstáculos que apareciam pelo caminho seriam trampolins para passos ainda mais decididos: quantas experiências de leis que [KB1] mudavam e de novas receitas financeiras, viabilizando o prosseguimento da iniciativa. Profissionais e até famílias inteiras, impulsionados pela fé que Ginetta tinha, mudavam-se de suas cidades para trabalharem pela EdC.   

Os pioneiros da implantação da iniciativa[KB2]  no Brasil testemunham:
«Ginetta deu a própria vida em cada acontecimento, a cada passo da concretização da EdC e do Pólo Spartaco. Em cada etapa, foi ela a impulsionar-nos, a encorajar-nos em cada dificuldade; era a bússola que nos orientava, a maior intérprete dessa esplêndida proposta de Chiara.»
Ricardo Caiuby, ex-presidente da ESPRI

«Ela foi a luz que sempre nos recolocou no caminho certo e infundiu em nós a coragem de que precisávamos. Graças a ela fomos sempre para frente.»
João Carlos Pompermayer, Diretor Técnico da ESPRI

«Meditando sobre a vida que acontece ali no Pólo Spartaco, vejo-o como um solo sagrado. Lembro-me de modo especial de Ginetta, e sinto que também eu devo, como ela, amar a totalidade desse campo sagrado, com suas pedras, com seus espinhos e seus espaços de terra fértil. Assim sinto também eu “o sangue da minha alma sendo derramado” para que todas as experiências vividas ali possam ser resgatadas pelo meu amor.»
Rodolfo Leibholz – FEMAQ

«A proposta da EdC caiu em um solo fértil porque Ginetta havia já preparado o terreno por tantos anos, através do amor pelo povo brasileiro.»
Roseli e Armando Tortelli, empresários, Prodiet

«Quando Chiara lançou a idéia da EdC Ginetta me disse: “A Chiara não se responde com palavras bonitas mas com fatos. O que você pretende fazer diante dessa proposta?”. Entendi que deveria colocar as minhas forças a serviço. Alguns dias depois assumi a direção da Escola Aurora.»
Ana Maria N. Correa – Centro Educacional Aurora

«Ela acreditou nesse projeto e em cada um de nós, fortificou-nos, potencializou-nos e levou-nos a acreditar junto com ela.»
Ercília Fiorelli, empresária

«Eu me lembro que, depois de um Congresso da EdC, em 1998, encontramo-nos com ela, e veio-me uma inspiração muito grande: abrir outra empresa no Pólo Spartaco. Em particular, tocaram-me as palavras de Ginetta : “Os pobres não podem esperar”.»
Augusto Lima Neto, empresário
Ecoar, Allman e AVN

«Em uma ocasião Ginetta me disse: “Viver é um risco; para concretizar as obras de Deus é preciso coragem e ousadia»
Darlene Bonfim – Policlínica Ágape

E François Neveux, empresário francês da KNE-Rotogine, hoje já no Paraíso:
«Com ela, todos os momentos tornavam-se momentos de “construção”. Ginetta é uma focolarina modelo, que escutou enormemente Chiara, que doou toda a sua vida pelo Movimento e que é a alma do Movimento. É come se eu tivesse Chiara diante de mim. Ela sentiu imediatamente que Deus me havia escolhido para a Economia de Comunhão, e me disse diretamente: “Tudo o que você está me contando, tudo o que você faz, tudo o que eu vejo, é Espírito Santo”.  Eu acreditei nisso imediatamente. Existia um perfeito acordo entre nós. Tudo o que ela me dizia eu compreendia perfeitamente, e tudo o que eu lhe dizia ela compreendia perfeitamente.»


 [KB1]Que eu sabia essas mudanças de leis não forma repentinas, mas fruto de muita articulação!!!

 [KB2]A rigor a EdC não é projeto.

segunda-feira, 21 de março de 2011

ALGUMAS ETAPAS DA VIDA DE GINETTA

Ginetta Calliari nasceu em Trento, norte da Itália, em 15 de outubro de 1918.
Em 1944 conheceu Chiara Lubich, fundadora e presidente do Movimento dos Focolares, e tornou-se uma de suas primeiras companheiras.
Em novembro de 1959, Ginetta desembarcou no porto de Recife. Com ela, vieram outras três focolarinas e quatro focolarinos, que iriam iniciar no Brasil os dois primeiros centros do Movimento para além das fronteiras européias.

Após uma permanência de cinco anos no Nordeste, Ginetta foi para a cidade de São Paulo e, em 1969, para o município de Vargem Grande Paulista, de onde, durante cerca de trinta anos, acompanhou pessoalmente a fundação de outros centros de irradiação do Movimento dos Focolares no Brasil: em Brasília, Manaus, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Maceió, São Luís e, passo a passo, o desenvolvimento da Mariápolis Ginetta, sede nacional dos Focolares.
A Mariápolis Ginetta (que tem hoje cerca de 300 habitantes) é uma das 30 cidadezinhas-testemunho do Movimento: esboço de uma sociedade nova, expressão de liberdade e igualdade, de unidade.
A Mariápolis tornou-se espaço de diálogo: entre católicos, entre cristãos de várias denominações, com fiéis de outras religiões e pessoas que, mesmo sem um referencial religioso, buscam a vivência de valores universais.
A ideal de unidade tem reflexos também no tecido social, nos setores da educação, da saúde, da política, da arte, da promoção humana, etc. Em todo o Brasil estão em andamento centenas de projetos sociais, animados pelo Movimento dos Focolares.
Vamos percorrer algumas etapas da vida de Ginetta que nos levam a perceber o anseio de justiça característico de sua vida e que prepararam a sua alma para o protagonismo na concretização da EdC no Brasil.
Em 1944, ela encantou-se com uma experiência, contada por sua irmã mais nova, Gisella, sobre a comunhão que Chiara e suas primeiras companheiras faziam de roupas que consideravam a mais do que o necessário, em prol das pessoas carentes. Diante desse episódio, Ginetta comentou: “Que extraordinário! Isso mudará o mundo!”
Em novembro de 1959, ao se despedir do grupo de focolarinos que viajavam para o Brasil a fim de abrir os primeiros focolares, Chiara entregou simbolicamente a Ginetta o Crucifixo vivo, Jesus Abandonado. Chiara dizia: “Você o apresentará ao povo brasileiro e verá a resposta!”. Chegando a Recife – Ginetta mesma conta – “foi um choque constatar a desigualdade social, a discriminação, a fome que transparecia nos rostos”. Era o encontro face a face com o Crucifixo vivo. Disse, então, a si mesma: “Aqui não dá para permanecer passivo. Alguma coisa precisa mudar. O que precisa mudar? O ser humano”. E concluiu: “É preciso homens novos, com uma mentalidade nova, de modo que surjam estruturas novas e, de conseqüência, cidades novas, um povo novo!”
Foi o amor ao Crucifixo vivo, identificado nas pessoas marcadas por todo tipo de sofrimento, que pautou a vida e a ação de Ginetta e dos membros do Movimento desde aquela época, inspirando inúmeras iniciativas de cunho social com o objetivo de contribuir na resolução da situação de miséria de muitas pessoas nas várias regiões onde viviam.
Na década de 1970 e 1980, quando fervilhavam na América Latina os movimentos sociais, tendo diante de si todas as pessoas dos Focolares que tiveram a própria vida transformada pelo Ideal da unidade – inclusive várias provenientes das favelas – Ginetta teve a idéia de organizar um livro que recolhesse todas essas experiências. O livro trazia como título “O Evangelho força dos pobres” (traduzido em italiano, holandês e espanhol) e adotado inclusive como livro-texto em algumas escolas. Foi um sucesso, e suscitou logo outro: “O Evangelho no dia–a-dia”, seguido de um terceiro, “Quando o Evangelho entra na família”.
Em 1991, Chiara Lubich, a fundadora do Movimento dos Focolares, veio ao Brasil, a Vargem Grande Paulista, onde a Mariápolis se localiza. Ela lançou, para todo o país, a idéia da “Economia de comunhão na Liberdade” (EdC). Mais precisamente, no dia 29 de maio de 1991. Local: auditório da Mariápolis Araceli, hoje Mariápolis Ginetta.
No projeto EdC se articulam em harmonia princípios sociais e econômicos nunca antes justapostos: economia, solidariedade e liberdade. A novidade está na distribuição do lucro, que é dividido em três partes: para o re-investimento na própria empresa; para ir ao encontro dos necessitados; para a formação de pessoas com uma mentalidade aberta à “cultura da partilha”.
A participação de Ginetta Calliari na sua concretização foi determinante, pela sua adesão imediata à proposta e pela sua profunda convicção de que ali estava uma resposta à complexa problemática social.
A idéia, inspiração genial, estava lançada; tratava-se de concretizá-la. Por onde começar? Pautando-se nas palavras de Chiara, Ginetta e os dirigentes do Movimento no Brasil reuniram-se para encontrar caminhos de atuação e traçar metas. De modo especial, a implantação do Pólo Empresarial Spartaco, pioneiro na concretização da idéia de Chiara, requeria esforços, recursos, idéias e, especialmente, muita fé. O Brasil atravessava um período de recessão econômica; muitos estabelecimentos estavam fechando, e os membros do Movimento eram convidados a abrir empresas!
Ginetta desempenhou um papel pioneiro na implantação do Pólo Empresarial Spartaco, a 4 km da Mariápolis Ginetta. Atualmente estão em funcionamento no pólo seis empresas da EdC. No mundo inteiro, são mais de 700 empresas e atividades produtivas, das quais 100 no Brasil.
Com a sua típica fé em Deus, Ginetta ajudou moral e espiritualmente não só empresários, mas também funcionários e acionistas, não deixando que a chama da EdC se apagasse no coração de ninguém. Ela olhava para frente, sabia que o projeto era uma inspiração de Deus; portanto, os obstáculos que apareciam pelo caminho seriam trampolins para passos ainda mais decididos: quantas experiências de leis que mudavam e de novas receitas financeiras, viabilizando o prosseguimento da iniciativa. Profissionais e até famílias inteiras, impulsionados pela fé que Ginetta tinha, mudavam-se de suas cidades para trabalharem pela EdC.
Em 1996 nasceu o Movimento Político pela Unidade, que vem se desenvolvendo também no Brasil: reúne políticos de diferentes partidos e ideologias que, antes de tudo, acreditam nos valores profundos e eternos do homem e, inspirados neles, atuam na política. Não se trata de um novo partido político. É o método da política que é transformado: mesmo permanecendo fiel às próprias aspirações autênticas, o político da unidade ama a todos, buscando aquilo que une.
Em maio de 1997, Ginetta recebeu na Mariápolis o então vice-presidente da República, Dr. Marco Maciel.
Em 1998, representando Chiara Lubich, ela proferiu um discurso na Câmara dos Deputados em Brasília: “O Movimento dos Focolares nos seus aspectos políticos e sociais”.
Em 1999, Ginetta acolheu na Mariápolis os parlamentares da Comissão Mista para o Combate e a Erradicação da Pobreza no Brasil. Eles visitaram a Mariápolis e o Pólo Spartaco pra conhecerem o projeto da EdC.


À distância de 10 anos da morte de Ginetta e 20 anos do lançamento do projeto Economia de Comunhão (EdC), lembramos esses dois eventos na profunda ligação que têm entre si.
Nas últimas palavras antes de morrer, Ginetta recordava a frase das Escrituras que, ao longo de sua vida, a ouvimos repetir em várias situações: “Sem derramamento de sangue não há redenção”.
Em outra ocasião, respondendo a alguém que lhe tinha perguntado sobre o andamento da EdC, Ginetta exclamou “É sangue da alma!” É a profunda convicção da verdade contida na lógica do Evangelho: é da morte que nasce a vida, é morrendo na terra que o grão de trigo produz frutos! Essa certeza sempre acompanhou Ginetta em tudo o que fez e viveu.



terça-feira, 15 de março de 2011

APRECIAÇÃO SOBRE O NOVO LIVRO DE GINETTA CALLIARI



Acabo de ler a profunda, singela e doce obra "GINETTA - FATOS QUE AINDA NÃO CONTEI", na qual a própria protagonista relata, no estilo autobiografia, fatos que merecem ser conhecidos por aqueles que com ela conviveram e também por tantos que sequer a conheceram.
Primeiro, sugiro a todos que com ela conviveram que venham saborear fatos e episódios do cotidiano da infância, adolescência e da vida adulta de Ginetta, os quais demonstram que, muito além do temperamento e das características pessoais de cada um, há um forte apelo que Deus nos faz em dado momento da vida, ocasião em que tudo passa a ser secundário. Basta a Sua vontade. É o decisivo "vem e segue-me" que, de certa forma, Ele dirige a cada ser humano; é preciso, no entanto, ter a sensibilidade para ouvi-Lo, e, seguindo-o, encontrar a felicidade nesta vida. Felicidade que, aliás, a própria Ginetta relata a sua ansiosa busca e como a encontrou.
Para aqueles que não conheceram Ginetta, indico igualmente a leitura da obra, pois, num mar de situações que poderiam parecer a mera rotina do cotidiano, descobre-se Deus que intervém  na história dos homens de boa vontade.  Descobre-se, acima de tudo, que a vida é simples, e na sua simplicidade e essencialidade Deus se revela como Amor, e, segui-Lo, significa reproduzir a intensidade desse Amor em relacionamentos fraternos, a grandiosidade dessa obra-prima que é o homem, o esplendor e a oportunidade única que é "viver",  a maravilha incomparável que é o mundo, a criação, a criatura..
Um agradecimento fica, por justiça, à organizadora da obra, Sandra Ferreira Ribeiro, que soube compilar com equilíbrio, harmonia, articulação e sentido humano-divino, os escritos deixados como testamento por Ginetta Calliari. 
Munir Cury

quinta-feira, 10 de março de 2011

HOMENAGEM A GINETTA CALLIARI em 7.3.2011

Dia 7 de março, segunda-feira passada, comemoramos os 10 anos da chegada de Ginetta à casa do Pai. A Mariápolis Ginetta estava em festa! A missa das 18:30, na igreja de Jesus Eucaristia, foi celebrada pelo arcebispo de Sorocaba, D. Eduardo Benes, com uma  homilia profunda, na qual evidenciava a figura de Ginetta como cristã coerente.  Estavam presentes o nosso prefeito de Vargem Grande Paulista, Roberto Rocha e esposa, o vice-prefeito Prof. Carlos e esposa, bem como uma delegação da Rissho-Kossei-Kai de São Paulo, que transmitiu uma rica mensagem do Reverendo Nagashima durante a programção das 20:30, no auditório do Centro Mariápolis, que ficou repleto. Intercalaram-se testemunhos, números artísticos, relatos, para relembrar a figura de Ginetta, tão significativa para a história do Movimento dos Focolares no Brasil. As cerca de 300 pessoas presentes saíram dali com novo ardor na vivência do cristianismo e do Ideal da Unidade, a exemplo de Ginetta.  

Chiara sobre Ginetta
Reportamos uma mensagem que Chiara Lubich enviou a todos os membros do Movimento dos Focolares espalhados em todas os cantos do planeta, cerca de um mês após a morte de Ginetta, ocorrida em 8 de março de 2001. É um pensamento sobre ela, que transcrevemos para recordar o 10º ano da sua partida desta terra e para nos estimularmos a seguir o seu exemplo.



Rocca di Papa, 19 de abril de 2001

A unidade mais genuína
Caríssimos,

Parece realmente que Jesus não faz economia em oferecer modelos para nossa vida cristã, a todos nós e, principalmente, aos jovens. Ele os apresenta justamente nesta época tão escassa de modelos; quando muito, eles são procurados por caminhos errôneos.
Nestes últimos dias, estamos conhecendo muitos detalhes da vida de Ginetta. Alguns podem ser considerados extraordinários. No entanto, será necessário um livro inteiro para conhecê-la, ainda assim, apenas parcialmente.
Será possível identificar nesta sua riquíssima vida espiritual uma qualidade ou virtude que mais a caracterizou?
Sim: a unidade – eu creio –, a unidade mais genuína, correta, autêntica, perfeita, forte, sólida, vivida e realizada com o amor exclusivo e perseverante a Jesus Abandonado. Aquela unidade que a nossa espiritualidade comunitária nos ensina a viver, seguindo o modelo da Santíssima Trindade; aquela unidade com a qual, na medida das nossas possibilidades humanas, procuramos repetir o relacionamento entre o Pai celeste e o seu Filho, no Espírito Santo.
Desde o início da sua nova vida, a partir do seu encontro com o Ideal da unidade, Ginetta compreendeu que Deus nos doou um carisma e o ofereceu a todos por meio de um instrumento seu. Dessa convicção provinha a sua unidade total e incondicional com aquela que, de certo modo, representava a fonte desse carisma.
Ela não se apoiava em si mesma, não se voltou para si mesma, nem sequer para o que possuía de mais precioso, ou seja, a luz deste dom do qual ela também participava. Ginetta viveu como Jesus que, mesmo podendo chamar a atenção para si (Ele também era Deus, como o Pai), não o fez. Jesus “apagou-se” a si mesmo, digamos assim, orientando a todos para o Pai.
Ginetta anulou-se completamente a si mesma e, assim como Jesus Abandonado, que, reduzindo-se a nada, foi Mediador entre nós e o Pai, também ela tornou-se uma autêntica mediadora do carisma da unidade para muitos.
Ela abriu espaço ao carisma da unidade genuíno. Não lhe quis dar uma interpretação pessoal. Acolheu-o assim como ele jorrava da fonte. E colocou-se a seu serviço, vivendo-o e levando os outros a viverem-no. Daí deriva a autenticidade da sua vida, o segredo, o milagre, a capacidade de concretização e o fato de realizar obras completas. Por isso é reconhecida por unanimidade como co-fundadora daquela porção da Obra que é uma parte do mundo: o Brasil. 
Que agora, do Céu, ela nos ajude a viver assim!
Ginetta viveu unicamente para a glória de Deus. Ela foi puro serviço, serva, como Maria. Não temos nada de melhor a indicar para sabermos como agir neste próximo mês: viver o nosso Ideal, assim como o Espírito Santo nos doa por meio do instrumento escolhido por Ele. Porque assim foi Ginetta.
                                                                                Chiara

quinta-feira, 3 de março de 2011

FESTA NO CÉU: DEZ ANOS DA 'CHEGADA' DE GINETTA

No dia 8 de março, comemoramos 10 anos do falecimento de Ginetta Calliari. Justamente no Dia da Mulher temos um exemplo de vida maravilhoso na sua pessoa e na caminhada de vida que fez dela um modelo a ser imitado. Que Ginetta, da Mariápolis Celeste, nos incite a fazer da nossa vida um farol, luz para o mundo, sal da terra.
Para lembrá-la, publicamos a segunda parte do testemunho de Danilo Zanzucchi. A primeira parte foi publicada no Boletim nº 4, já à disposição.

Já fazia algum tempo que Ginetta estava pensando em construir na Araceli uma ou mais casas para uma escola de famílias, seguindo o exemplo da Escola Loreto, em Loppiano. Ela havia até mencionado isso a Chiara, na sua visita recente. Aproveitou desse encontro dos focolarinos casados para propor-lhes o projeto, que foi aprovado por unanimidade com aplausos clamorosos.
Ginetta – sempre limitada à sua poltrona – havia telefonado a Chiara, que expressou seu contentamento por essa iniciativa.
Assim, sob um sol forte e um céu azul intenso, no dia 20 de fevereiro, uma procissão de focolarinos e famílias se dirigiu ao terreno, perto do Centro Mariápolis. Foi lida uma mensagem muito bonita de Ginetta: “Somente quando é Deus quem constrói, não trabalhamos em vão”. Ao som da canção “Magnificat” foram depositadas as medalhinhas no terreno. Uma experiência de fé, sentida profundamente e muito participada.

Naqueles dias, num outro encontro com Ginetta, falamos sobre os seus primeiros tempos em Trento, quando ela trabalhava com Aldo Gadotti, seu chefe, que era um tipo cético quanto à religião.
Um dia, ela se apresentou a Aldo para pedir demissão do trabalho e perguntar se poderia ser substituída por outra focolarina. Depois, convidou-o a ir ao focolare. Foi então que Ginetta teve a oportunidade de lhe falar sobre a ação social que as primeiras focolarinas estavam realizando em Trento. A essa altura Aldo deu-lhes todo o dinheiro que trazia consigo. Mas o que Ginetta queria mesmo era lhe falar do Ideal, que foi o que aconteceu na segunda vez em que Aldo foi ao focolare de Trento.
A conseqüência dessa “história do Ideal” foi uma longa confissão de Aldo, que arrancou lágrimas também do confessor. Ouvindo essa narração é espontâneo pensar no relacionamento direto de Ginetta com Jesus. Toda a sua existência é com Ele.

No final de janeiro passado (de 2001) estivemos novamente na Araceli, para encontros com as famílias da Obra. Tivemos oportunidade de estar com Ginetta umas cinco vezes. Nós a encontramos muito bem, após o período doloroso da doença, que no ano anterior a tinha deixado à beira da morte.
No dia seguinte à nossa chegada na Araceli, Ginetta já nos convidou para o almoço num restaurante fora da Mariápolis, imerso no verde tropical dessas florestas estupendas.
Parecia-nos um milagre vê-la à mesa conosco, em plena forma. Imediatamente estabeleceu-se uma unidade especial; contávamos experiências profundas do Ideal, com naturalidade e alegria, como entre irmãos e irmãs. Um dom imenso. Tínhamos a impressão de estar com uma grande santa. Lembrávamos os dias do nosso encontro com o Ideal em Milão, em Parma, do relacionamento de Ginetta com a nossa Chiaretta, os acontecimentos dolorosos da Obra na década de Cinqüenta. Ginetta dizia entrever um desígnio de Deus sobre nós e a nossa família.
 No dia seguinte fomos à missa na capelinha de sua casa. Oração intensa. Após a missa ela leu o agradecimento, as orações da visita ao Santíssimo, o exame de consciência simples, profundo. A seguir, passamos ao seu escritório, ao lado da capela. Continuamos uma comunhão profunda das nossas experiências de Jesus em meio, numa atmosfera simples, bela, lembrando também fatos divertidos.
Houve ainda outros encontros, nos dias seguintes. Ginetta vivia numa espécie de retiro, não participava dos encontros da Mariápolis, mas na verdade era a alma de tudo.
Numa tarde ela quis cumprimentar os focolarinos casados que realizavam um encontro. Eram cerca de cem, de todo o Brasil. Ginetta conhecia muitos deles. E não acabava mais de cumprimentá-los, um a um, com palavras de encorajamento. É difícil descrever o clima de grande unidade que se criou ao seu redor.
Antes de deixarmos a Araceli, ela nos convidou ainda para o almoço.
Agradeceu-nos por termos estado lá, como representantes de Foco.
Em seguida, na missa, numa atmosfera de alegria, confiamos a Jesus e a Maria o fruto dessa viagem.
No momento da nossa partida, Ginetta desceu até o jardim e fez questão de nos cumprimentar, saudando-nos até o carro partir para o aeroporto. Conservamos na alma o amor daquela despedida.