Aproximando-se a Jornada da EdC ─ que acontecerá no dia 29 de maio próximo, na cidade de São Paulo, no Memorial da América Latina ─ reportamos um artigo do Boletim nº 4, que menciona a relação de Ginetta com essa realidade.
Vinte anos atrás, Chiara Lubich lançou, no Brasil, a idéia da “Economia de comunhão na Liberdade” (EdC). Mais precisamente, no dia 29 de maio de 1991. Local: auditório da Mariápolis Araceli, hoje Mariápolis Ginetta.
Muitas das 250 mil pessoas que até então haviam aderido ao Movimento dos Focolares no País, apesar da comunhão de bens praticada já desde primórdios deste, viviam numa situação de pobreza. Nasceu, assim, em Chiara uma idéia que se revelou extraordinariamente inovadora: criar empresas dirigidas por pessoas dispostas a colocar o lucro em comum, livremente. Uma “Economia de Comunhão na liberdade”. Desse lucro, uma parte seria usada para ajudar quem passa necessidades; outra parte, para incrementar a própria empresa; e a terceira parte, para desenvolver estruturas de formação de “homens novos” – expressão evangélica, indicando pessoas imbuídas do espírito de comunhão e fraternidade, premissa determinante para criar uma sociedade renovada.
Para Ginetta, o lançamento do projeto EdC foi a resposta de Deus às expectativas da Obra de Maria, ou Movimento dos Focolares, no Brasil. De fato, ela e os demais dirigentes do Movimento sempre tiveram a convicção de que, se fossem fiéis ao Ideal da unidade, Deus iria mostrar o caminho que poderia solucionar também estruturalmente o problema social no Brasil.
Ginetta identificou logo a EdC – justamente por ser fruto do carisma que Deus havia dado a Chiara – como esse caminho. Desde então, ela se dedicou incansavelmente para que o projeto “decolasse” e, com a sua fé singular, estimulava os empresários que haviam aderido ao projeto, contagiando-os com a sua certeza de que se tratava de um projeto de Deus e não dos homens e que, portanto, valia a pena arriscar tudo por ele.
Vamos percorrer algumas etapas da vida de Ginetta que nos levam a perceber o anseio de justiça característico de sua vida e que prepararam a sua alma para o protagonismo na concretização da EdC no Brasil.
Nos boletins anteriores já foi citado o episódio da fuga de Ginetta e de sua irmã Gis da propriedade de uma família nobre, na província de Veneza – onde trabalhavam e da qual os proprietários queriam fazê-las herdeiras –, fuga essa em sinal de não conivência com a situação de injustiça que presenciaram no trato dos empregados.
Em 1944, ela encantou-se e sentiu-se atraída pela experiência, contada a ela por Gis, da comunhão que Chiara e suas primeiras companheiras faziam de roupas que consideravam a mais do que o necessário, em prol das pessoas carentes. Diante desse episódio, Ginetta comentou: “Que extraordinário! Isso mudará o mundo!”
Pensando na personalidade sensível à justiça social, de Ginetta, é significativo o fato que Chiara tenha confiado justamente a ela a leitura de uma carta sua à primeira comunidade do Movimento, na cidade de Trento, a partir da qual teve início a comunhão de bens que caracterizaria até hoje a vida dos membros do Movimento.
Em novembro de 1959 – como já tivemos a oportunidade de mencionar nos números anteriores –, ao se despedir do grupo de focolarinos que viajavam para o Brasil a fim de abrir os primeiros focolares, Chiara entregou simbolicamente a Ginetta o Crucifixo vivo, Jesus Abandonado. Chiara dizia: “Você o apresentará ao povo brasileiro e verá a resposta!”.
Chegando a Recife – Ginetta mesma conta – “foi um choque constatar a desigualdade social, a discriminação, a fome que transparecia nos rostos”. Era o encontro face a face com o Crucifixo vivo. Disse, então, a si mesma: “Aqui não dá para permanecer passivo. Alguma coisa precisa mudar. O quê? O ser humano”. E concluiu: “É preciso homens novos, com uma mentalidade nova, de modo que surjam estruturas novas e, de conseqüência, cidades novas, um povo novo!”
Foi o amor ao Crucifixo vivo, identificado nas pessoas marcadas por todo tipo de sofrimento, que pautou a vida e a ação de Ginetta e dos membros do Movimento desde aquela época, inspirando inúmeras iniciativas de cunho social com o objetivo de contribuir na resolução da situação de miséria de muitas pessoas nas várias regiões onde viviam.
Mas conforme a indicação de Chiara, nunca se tratou somente de dar o pão a quem tinha fome, mas de formar pessoas imbuídas da cultura do Evangelho, que convida a dar, a partilhar e, por conseguinte, a experimentar a realização da promessa de Jesus: “Buscai antes de tudo o Reino de Deus e sua justiça e todas estas coisas vos serão acrescentadas (Mt 6,33)”.
Chiara foi conhecendo a realidade dos vários países onde o Movimento estava lançando raízes e constatou as características que a concretização do Ideal ia tomando em cada região. Numa leitura da história e da sociedade à luz do Ideal da unidade, ela imaginou que a resposta que o Ideal da unidade poderia dar à América Latina seria a harmonia dos relacionamentos sociais. De fato, o amor evangélico vivido nesses países deveria levar à fraternidade humana e, portanto, à justiça social.
Na década de 1970 e 1980, quando fervilhavam na América Latina os movimentos sociais, tendo diante de si todas as pessoas dos Focolares que tiveram a própria vida transformada pelo Ideal da unidade – inclusive muitas provenientes das favelas – , Ginetta teve a idéia de organizar um livro que recolhesse todas essas experiências. O livro trazia como título O Evangelho força dos pobres (traduzido em italiano, holandês e espanhol) e adotado inclusive como livro-texto em algumas escolas. Foi um sucesso e suscitou logo outro: O Evangelho no dia–a-dia, seguido de um terceiro, Quando o Evangelho entra na família.
Em 1991, Chiara veio ao Brasil. No dia de sua chegada, anotou no seu diário haver entendido que a sua vinda ao Brasil tinha o significado de agradecimento pelo amor e pela fidelidade superlativos de Ginetta ao carisma da unidade, causa principal das realizações maravilhosas que ela havia constatado. E intuía que algo de grande haveria de acontecer naqueles dias da sua permanência.
Durante sua estada na Mariápolis, Chiara apresentou a proposta de uma iniciativa que imediatamente recebeu o nome de Economia de Comunhão na Liberdade.
A idéia, inspiração genial, estava lançada; tratava-se de concretizá-la. Por onde começar? Pautando-se nas palavras de Chiara, Ginetta e os dirigentes do Movimento no Brasil reuniram-se para encontrar caminhos de atuação e traçar metas. De modo especial, a implantação do Pólo Empresarial Spartaco, pioneiro na concretização da idéia de Chiara, requeria esforços, recursos, idéias e, especialmente, muita fé. O Brasil atravessava um período de recessão econômica; muitos estabelecimentos estavam fechando, e os membros do Movimento eram convidados a abrir empresas!
Com a sua típica fé em Deus e em unidade profunda com Chiara, Ginetta ajudou moral e espiritualmente não só empresários, mas também funcionários e acionistas, não deixando que a chama da EdC se apagasse no coração de ninguém. Ela olhava para frente, sabia que o projeto era uma inspiração de Deus dada a Chiara; portanto, os obstáculos que apareciam pelo caminho seriam trampolins para passos ainda mais decididos: quantas experiências de leis que mudavam e de novas receitas financeiras, viabilizando o prosseguimento da iniciativa. Profissionais e até famílias inteiras, impulsionados pela fé que Ginetta tinha, mudavam-se de suas cidades para trabalharem pela EdC.
«Ginetta deu a própria vida em cada acontecimento, a cada passo da concretização da EdC e do Pólo Spartaco. Em cada etapa, foi ela a impulsionar-nos, a encorajar-nos em cada dificuldade; era a bússola que nos orientava, a maior intérprete dessa esplêndida proposta de Chiara.»
Ricardo Caiuby, ex-presidente da ESPRI
«Ela foi a luz que sempre nos recolocou no caminho certo e infundiu em nós a coragem de que precisávamos. Graças a ela fomos sempre para frente.»
João Carlos Pompermayer, Diretor Técnico da ESPRI
«Meditando sobre a vida que acontece ali no Pólo Spartaco, vejo-o como um solo sagrado. Lembro-me de modo especial de Ginetta, e sinto que também eu devo, como ela, amar a totalidade desse campo sagrado, com suas pedras, com seus espinhos e seus espaços de terra fértil. Assim sinto também eu “o sangue da minha alma sendo derramado” para que todas as experiências vividas ali possam ser resgatadas pelo meu amor.»
Rodolfo Leibholz – FEMAQ
«A proposta da EdC caiu em um solo fértil porque Ginetta havia já preparado o terreno por tantos anos, através do amor pelo povo brasileiro.»
Roseli e Armando Tortelli, empresários, Prodiet
«Quando Chiara lançou a idéia da EdC Ginetta me disse: “A Chiara não se responde com palavras bonitas mas com fatos. O que você pretende fazer diante dessa proposta?”. Entendi que deveria colocar as minhas forças a serviço. Alguns dias depois assumi a direção da Escola Aurora.»
Ana Maria N. Correa – Centro Educacional Aurora
«Ela acreditou nesse projeto e em cada um de nós, fortificou-nos, potencializou-nos e levou-nos a acreditar junto com ela.»
Ercília Fiorelli, empresária
«Eu me lembro que, depois de um Congresso da EdC, em 1998, encontramo-nos com ela, e veio-me uma inspiração muito grande: abrir outra empresa no Pólo Spartaco. Em particular, tocaram-me as palavras de Ginetta : “Os pobres não podem esperar”.»
Augusto Lima Neto, empresário
Ecoar, Allman e AVN
«Em uma ocasião Ginetta me disse: “Viver é um risco; para concretizar as obras de Deus é preciso coragem e ousadia»
Darlene Bonfim – Policlínica Ágape
E François Neveux, empresário francês da KNE-Rotogine, hoje já no Paraíso:
«Com ela, todos os momentos tornavam-se momentos de “construção”. Ginetta é uma focolarina modelo, que escutou enormemente Chiara, que doou toda a sua vida pelo Movimento e que é a alma do Movimento. É come se eu tivesse Chiara diante de mim. Ela sentiu imediatamente que Deus me havia escolhido para a Economia de Comunhão, e me disse diretamente: “Tudo o que você está me contando, tudo o que você faz, tudo o que eu vejo, é Espírito Santo”. Eu acreditei nisso imediatamente. Existia um perfeito acordo entre nós. Tudo o que ela me dizia eu compreendia perfeitamente, e tudo o que eu lhe dizia ela compreendia perfeitamente.»